- Ela fez isso?-
perguntei.
- Nós vivemos
aqui há mais tempo.
- A tua mãe deve
ter achado que não estavas interessada na casa.
- A Morgan tinha
imenso jeito para se enganar.
- Rose, querida
estamos aqui para ficar.- disse o José olhando para mim.
- Esta é a nossa
casa.
- Tudo bem...
- Só a Morgan
para me ver numa espelunca destas, com dois alcoólicos desconhecidos.
Nesse instante o que estava sentado a olhar para mim, mais
directamente nos meus olhos...
- Vocês são
alcoólicos, não é?
- Mas não somos
desconhecidos.- disse o José.
- Eramos seus
amigos e cuidamos dela.
- Quanto a esta
espelunca serve-nos perfeitamente, mas não é própria para uma rapariga como tu.
- Vou
levantar-me, se quiseres podes ficar a ver.
Eu virei-me logo e o José ao levantar-se e começar-se a
vestir disse:
- Custa a querer
que nunca tenhas visto um homem nu.
- Tão velho não.-
respondi eu no gozo.
- Eu sei que não
és nenhuma santinha.- disse o José.
- Você não sabe
nada da minha vida!- exclamei eu virando-me para ele.
Ele já estava vestido saiu do quarto, vinha na minha
direcção e disse:
- Até mais logo,
acabaram-se os "cigarros".
- Gostei de
voltar a ver-te Rose.
- Estás
crescida.- disse o José tocando-me com a mão na cara e saiu.
O Russell estava olhando isto e não gostou nada, e eu olhei
para ele. Este levantou-se para guardar a garrafa de sumo e os copos e
disse-me:
- Ele não costuma
ser tão parvo, esta transtornado por causa do funeral.
- Como todos nós.
- Ele tem razão,
eu não posso ficar aqui.- disse eu.
- Tem a sua
graça...
- A avó costumava
falar-me em pequena da casinha que ela estava deixando para mim.
- Devia ser a
vinhaça a falar.
- Tudo bem.-
disse eu pegando nas minhas coisas que não eram muitas.
- Não estou surpreendida.
- Espera, ela
iria querer que ficasses com estes livros.- disse o Crstian.
- Ao-de render
algum no mercado de segunda mão.- respondi eu.
Ela pegou nos livros e guardou-os, olhou uma última vez
para o Russell e ia saindo, ele disse:
- Eu ajudo-te.
- Não, não é
preciso.
- Eu queria ter
vindo ao funeral, mas não me disseram o dia.
Sai, sem saber para onde, pois eu tinha ido para lá para
me refugiar. Onde irei ficar?
O Russell ficou na
porta vendo-me partir. Já era noite e o Russell pensava onde estaria. O Russell
e o José estavam na sala, conversando, a luz dos candeeiros.
- A miúda é tão
parecida com ela.- disse o Russell.
- Ela é tão
linda...
De manhã, voltei para casa, pois
esta também me pertencia mesmo que só fosse 1/3.
Entrei e deitei-me no sofá, de logo adormeci. Pois não
tinha pregado olho a noite inteira. E porque o Russell e o José tinham saído.
Alguns minutos
depois ouviu-se a porta ranger, eram eles que tinham chegado. O Russell foi o
primeiro a entrar e a ver-me deitada no sofá, este vinha na minha direcção. Mas
o José pôs-se a frente e não o deixou vir. O José pegou numa cadeira e
sentou-se a meu lado, junto do sofá e disse:
- Porque é que
não usas-te a cama?
- Meu Deus.-
disse eu, porque ele cheirava a álcool.
- Podia me ter
deitado ao teu lado, e dar-te uns miminhos.
O Russell tinha-se sentado na cadeira junto ao meu sofá e
a entrada vendo o que o José estava fazendo e não estava gostando.
- Não me tinha
importado.- disse o José.
- Nós podíamos...
- Poupe-me.-
disse ela virando-se de costas para ele.
- É que eu gosto
de alimentar a inspiração.- disse o José.
- O Russell
também é escritor, é um excelente escritor.
- A sério?-
interroguei voltando a virar-me e a olhar para o Russell.
- Esta a escrever
um livro sobre mim.
- Que
fascinante.- disse.
- Capitulo I:
Acordei, embebedei-me e desmaiei.
- Capitulo II...
- Que encantadora
e espirituosa.- disse o José.
- És uma
vergonha, rapariga.
Levantei-me do sofá, subi as precianas e perguntei qual
dos quartos será o meu, não tenho ode ficar por isso.
- Decide ficar
aqui, até vocês os dois se fartarem e saírem.
- Nós nunca
havemos de sair!- exclamou o José.
- Nunca!
- Esquece essa
ideia!
- Damos-lhe o
quarto da Morgan.- disse o Russell.
- Esta bem.
-
Enlouqueces-te?!- disse o José em vos baixa para o Russell.
- Antes isso que
a farejar a verdade.- respondeu o Russell.
- Ela não irá
aguentar. Certificar-te disso.
- É magricela
demais para mim.- disse o José em voz baixinha.
O Russell foi ter comigo ao quarto da Morgan, para me
ajudar a tirar o que lá estava e para meter conversa perguntei:
- Vocês gostam de
livros.
- Basicamente são
do José.- respondeu o Russell.
- Ele era
professor.
- Ele, professor?
- Sim, e dos
bons.
- E você é mesmo
escritor?
- O José gosta de
dizer que sim.
- Estas caixas
aqui são da Morgan, portanto...
- Portanto, o
quê?
- Conheci muito
bem a tua mãe.
- Muito bem ,
como?
- Era difícil entende-la,
mas tinha um enorme coração sempre a disposição.- disse o José.
- E quanto sei
todas se serviam...- respondi.
O Russell pegou nas coisas deles e saiu do quarto levando
consigo o José. No dia seguinte da manhã tinha saído, fui ao Café/Bar da
aldeia. Entrei, sentei-me e foi então que a empregada que me vinha atender
disse:
- És a filha da Morgan...
- Serei a única a
não me lembrar disso!- disse.
- Lamento imenso
a morte...
- Não é preciso.
- Quero um café,
por favor.
- Ouvi dizer, que
vais abancar na casa do José e do Russell.- disse a empregada que me atendeu e
que era a namorada do Russell
- Não, eu vou
ficar na casa da Morgan indefinidamente.- respondi.
- Precisa de
alguém para trabalhar?
- Eles sabem
disso?
- Sim.
Entretanto no caminho de regresso, ouvi tocar e cantar,
então aproximai-me da margem da estrada e vi o Russell e o José mais
alguns...desci e vim ter com eles, quando o Russell olhou e viu-me vir na sua
direcção. Quando cheguei, levantou-se e começou a apresentar-me.
- Pessoal, está é
a filha da Morgan, a Rose.
- Vai passar
algum tempo connosco.
- Instala-te,
querida.- disse o José.
Eu não liguei e sentei-me ao lado do Russell, entretanto
todos começaram a apresentar-se e um deles disse:
- Agora vives com
esta coisa fofa?
- Lembro-me
quando tinhas uma todas as noites.
- Qual de vocês
ressona que nem um porco?- perguntei eu ao Russell.
- O José, se
estiver de costas.
- Uma amiga minha
ensinou-me o remedio santo para isso, é corta-lhe a garganta.
O José não quis ficar para trás e começou a cantar uma
canção de uma história "porca". Quando estava chegando ao fim, o Russell
olhou e viu-me a ir embora. O José viu e disse:
- Vais para a tua
casa?!
Eu nem lhe respondi, mostrei-lhe o dedo do meio, uma coisa
que no meu tempo nunca se fez. E continuei o meu caminho. Á noite, já todos
deitados, o Russell disse para o José:
- Não me sinto
bem a mentir-lhe.
- Para que quer
uma adolescente uma casa destas?!- disse o José.
- Ela disse que
era uma espelunca.
- Esta melhor longe
daqui.
- Mal vendas o
livro, tudo...
- Sim, iria ser
perfeito.- disse o José.
Os dias iam passando até que numa manhã o Russell
levantou-se ainda meio ensonado, e foi a cozinha quando viu tudo limpo e
arrumado. E viu-me com a cabeça no frigorífico.
- Estas no eletrodoméstico
errado.- disse ele.
- O quê?
- Se te queres
matar tens de por a cabeça no forno.
- Rapariga,
acordas-te cá com uma garra.
- José, anda ver
o que a Rose fez.
- Pará de
gritar.- respondeu o José.
- Já vi que não
se foi embora.
Mandei o pano com toda a força para o lava-loiças e disse:
- Nem vou!
- AH, esse roupão
de mulher fica-te a matar.- disse eu voltando atrás e depois indo-me embora.
- Ficas muito
giro assim vestido.
O Russell olhou para mim quando disse isto e depois para o
José, encolheu os ombros e sorriu, indo-se sentar no sofá.
- Bom dia a
todos...- disse o José.
Eu estava pegando nos sacos de lixo e o José para me
irritar ainda disse:
- Ouve, desde que
não andes por ai a empatar o trabalho do Russell, estou-me nas tintas.
Olhei para o José e fechei a porta dando-lhe um pontapé,
então o Russell virou-se para o José e disse:
- Tens de andar
sempre a chateá-la?
- Queres que vá
ficando?- perguntou o José.
- Já pensas-te se
a ajudarmos?- disse o Russell.
- Ajuda-la?
Como?- perguntou o José.
- Conheço-te
bem...queres é ajuda-la a tirar aquelas calças...
- Esquece, não se
pode falar contigo.- disse o Russell.
- Já esqueci.-
respondeu o José.
O Verão desaparecia numa imensa exposição e humidade. E
antes de começar as chuvas decidi arranjar a casa, estava pintando-a por fora e
a ouvir música, enquanto o Russell escrevia.
- Desliga, a
música rapariga!- gritou o José de dentro da casa.
- Não vês que ele
esta a trabalhar?!- exclamou o José vindo a janela.
O Russell olhou para o José e em seguida para mim. O José
tinha-se ido embora e eu ainda pus a música mais alta e fui me embora. O Russell
começou a rir baixinho e olhou para a janela.
Segundos, minutos, horas, dias, semanas, meses iam
passando até começar a aproximar-se a época de Natal. Era de manhã e eu estava
no sofá ouvindo rádio e o José veio se sentar junto de mim com um copo que
cheirava horrivelmente mal e disse:
- Que cheiro horrível
é este?
- Cerveja com
sumo de cenoura.- respondeu-me o José.
- O
pequeno-almoço dos campeões.
- Só se for da
mer...- disse eu.
- Começo a
fartar-me dessas tua atitude.
- Gostes ou não
sou o homem mais velho da casa e tens de me respeitar.
- Tens de
procurar emprego.
- Eu tenho feito
isso.
- E você que
passa os dias sentado a gabar os seus dias de glória.
Quando disse isto ele agarrou-me o braço, com força e
disse olhando-me nos olhos.
- Eu sou um
professor, um poeta.
- O nosso modo de
vida não é da tua conta, mas és responsável pela tua parte!
- E a vossa?!-
disse eu levantando-se e soltando-me dele.
- Vivem á borla,
devia agradecer...
- Esta casa é
nossa!- disse ele levantando-se e ficando na minha frente.
- Preferes que
faça uns cobros, trazendo cá "uns amigos".
- A Morgan não
fez isso em tempos?!
- Bolas!- disse o
José mandando ao chão o rádio que estava na mesa junto do sofá.
- Não tens
respeito pelos mortos?!
- Era a tua mãe!
- Além disso
todos sabemos que não és nenhum anjo...- dizia o José aproximando-se de mim.
- Já tiveste dois
homens duma só vez?- disse ele muito próximo de mim.
O José quando disse isto, ia tocar-me. Eu peguei no copo
que ele tinha pousado e joguei-o para a sua a cara, e de seguida pisei-lhe o
pé.
- Vai-te lixar!-
disse.
- Dizes ser o
homem mais velho da casa!
- O adulto!
- Eu não passo de
uma miúda!
- Não percebes?!
- Estou farta
dessa atitude quanto á morte da Morgan.
Nesse momento
vinha a entrar o Russell e deparou-se com este cenário.
- Queres
ensinar-me a respeitar-te?!
- Quem é que te
respeita?!- disse eu sentando-me no sofá.
- Eu não te
avisei.- disse o Russell quando o José ia a passar por ele.
- Meu Deus!-
disse ele vendo o estado em que estava.
O Russell olhou para mim e achou melhor não me dizer nada
nem se aproximar. Foi a cozinha pegar um copo de sumo e depois foi para os
degraus cá fora. Alguns minutos depois fui lá ter com ele e disse:
- Eu se o que
pensam de mim.
- Eu queria ser
normal mas a vida não me reservou isso.
- O que é que te
reservou a vida?- perguntou-me o Russell.
- O que desejas?
- Se pudesse ser
eu a escolher?
- Prometes que
não te ris?
- Não sei se
posso prometer.- disse ele fazendo um sorriso carinhoso.
- Gostava de
voltar atrás no tempo e não ter cometido o erro de ir salvar o Rodr...
- Esquece, eu só
queria ter uma família e poder algum dia regressar a minha terra...
- E posso saber
porquê ou o que aconteceu.- perguntou o Russell.
- Não sei, e acho
melhor não.
- Eu sei que é
uma estupidez.
- Não, não é
nada.
No meio da tarde,
o Russell estava com a carta que provava que a casa era minha, cá fora...depois
entrou e foi direito a casa-de-banho e eu estava lá, pois tinha acabado de
tomar banho.
- Desculpa.
- Esqueci-me que tínhamos
uma mulher em casa.- disse ele depois de ter fechado a porta.
Entretanto foi a cozinha, abriu o frigorifico tirou um
frasco de pickles e uma garrafa de álcool. Comeu o único pickle que o frasco
continha e depois deitou o que restava da garrafa de álcool dentro do frasco.
Já que não havia sumo, viu se ninguém estava a vê-lo e bebia essa mistura,
enquanto via a carta e foi quando aparecia e perguntei:
- Há notícias
dele?
- Preciso de
falar contigo.- disse ele virando-se para mim.
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