terça-feira, 7 de agosto de 2012

O Principio e o Fim do Inferno III: Autora: Sara Gonçalves - excerto 3


-    Ela fez isso?- perguntei.
-    Nós vivemos aqui há mais tempo.
-    A tua mãe deve ter achado que não estavas interessada na casa.
-    A Morgan tinha imenso jeito para se enganar.
-    Rose, querida estamos aqui para ficar.- disse o José olhando para mim.
-    Esta é a nossa casa.
-    Tudo bem...
-    Só a Morgan para me ver numa espelunca destas, com dois alcoólicos desconhecidos.
Nesse instante o que estava sentado a olhar para mim, mais directamente nos meus olhos...
-    Vocês são alcoólicos, não é?
-    Mas não somos desconhecidos.- disse o José.
-    Eramos seus amigos e cuidamos dela.
-    Quanto a esta espelunca serve-nos perfeitamente, mas não é própria para uma rapariga como tu.
-    Vou levantar-me, se quiseres podes ficar a ver.
Eu virei-me logo e o José ao levantar-se e começar-se a vestir disse:
-    Custa a querer que nunca tenhas visto um homem nu.
-    Tão velho não.- respondi eu no gozo.
-    Eu sei que não és nenhuma santinha.- disse o José.
-    Você não sabe nada da minha vida!- exclamei eu virando-me para ele.

Ele já estava vestido saiu do quarto, vinha na minha direcção e disse:
-    Até mais logo, acabaram-se os "cigarros".
-    Gostei de voltar a ver-te Rose.
-    Estás crescida.- disse o José tocando-me com a mão na cara e saiu.
O Russell estava olhando isto e não gostou nada, e eu olhei para ele. Este levantou-se para guardar a garrafa de sumo e os copos e disse-me:
-    Ele não costuma ser tão parvo, esta transtornado por causa do funeral.
-    Como todos nós.
-    Ele tem razão, eu não posso ficar aqui.- disse eu.
-    Tem a sua graça...
-    A avó costumava falar-me em pequena da casinha que ela estava deixando para mim.
-    Devia ser a vinhaça a falar.
-    Tudo bem.- disse eu pegando nas minhas coisas que não eram muitas.
-    Não estou surpreendida.
-    Espera, ela iria querer que ficasses com estes livros.- disse o Crstian.
-    Ao-de render algum no mercado de segunda mão.- respondi eu.
Ela pegou nos livros e guardou-os, olhou uma última vez para o Russell e ia saindo, ele disse:
-    Eu ajudo-te.
-    Não, não é preciso.
-    Eu queria ter vindo ao funeral, mas não me disseram o dia.
Sai, sem saber para onde, pois eu tinha ido para lá para me refugiar. Onde irei ficar?
  O Russell ficou na porta vendo-me partir. Já era noite e o Russell pensava onde estaria. O Russell e o José estavam na sala, conversando, a luz dos candeeiros.
-    A miúda é tão parecida com ela.- disse o Russell.
-    Ela é tão linda...
  De manhã, voltei para casa, pois esta também me pertencia mesmo que só fosse 1/3.

Entrei e deitei-me no sofá, de logo adormeci. Pois não tinha pregado olho a noite inteira. E porque o Russell e o José tinham saído.
  Alguns minutos depois ouviu-se a porta ranger, eram eles que tinham chegado. O Russell foi o primeiro a entrar e a ver-me deitada no sofá, este vinha na minha direcção. Mas o José pôs-se a frente e não o deixou vir. O José pegou numa cadeira e sentou-se a meu lado, junto do sofá e disse:
-    Porque é que não usas-te a cama?
-    Meu Deus.- disse eu, porque ele cheirava a álcool.
-    Podia me ter deitado ao teu lado, e dar-te uns miminhos.
O Russell tinha-se sentado na cadeira junto ao meu sofá e a entrada vendo o que o José estava fazendo e não estava gostando.
-    Não me tinha importado.- disse o José.
-    Nós podíamos...
-    Poupe-me.- disse ela virando-se de costas para ele.
-    É que eu gosto de alimentar a inspiração.- disse o José.
-    O Russell também é escritor, é um excelente escritor.
-    A sério?- interroguei voltando a virar-me e a olhar para o Russell.
-    Esta a escrever um livro sobre mim.
-    Que fascinante.- disse.
-    Capitulo I: Acordei, embebedei-me e desmaiei.
-    Capitulo II...
-    Que encantadora e espirituosa.- disse o José.
-    És uma vergonha, rapariga.
Levantei-me do sofá, subi as precianas e perguntei qual dos quartos será o meu, não tenho ode ficar por isso.
-    Decide ficar aqui, até vocês os dois se fartarem e saírem.
-    Nós nunca havemos de sair!- exclamou o José.
-    Nunca!
-    Esquece essa ideia!
-    Damos-lhe o quarto da Morgan.- disse o Russell.
-    Esta bem.
-    Enlouqueces-te?!- disse o José em vos baixa para o Russell.
-    Antes isso que a farejar a verdade.- respondeu o Russell.
-    Ela não irá aguentar. Certificar-te disso.
-    É magricela demais para mim.- disse o José em voz baixinha.
O Russell foi ter comigo ao quarto da Morgan, para me ajudar a tirar o que lá estava e para meter conversa perguntei:
-    Vocês gostam de livros.
-    Basicamente são do José.- respondeu o Russell.
-    Ele era professor.
-    Ele, professor?
-    Sim, e dos bons.
-    E você é mesmo escritor?
-    O José gosta de dizer que sim.
-    Estas caixas aqui são da Morgan, portanto...
-    Portanto, o quê?
-    Conheci muito bem a tua mãe.
-    Muito bem , como? 


-    Era difícil entende-la, mas tinha um enorme coração sempre a disposição.- disse o José.
-    E quanto sei todas se serviam...- respondi.
O Russell pegou nas coisas deles e saiu do quarto levando consigo o José. No dia seguinte da manhã tinha saído, fui ao Café/Bar da aldeia. Entrei, sentei-me e foi então que a empregada que me vinha atender disse:
-    És a filha da Morgan...
-    Serei a única a não me lembrar disso!- disse.
-    Lamento imenso a morte...
-    Não é preciso.
-    Quero um café, por favor.
-    Ouvi dizer, que vais abancar na casa do José e do Russell.- disse a empregada que me atendeu e que era a namorada do Russell
-     Não, eu vou ficar na casa da Morgan indefinidamente.- respondi.
-    Precisa de alguém para trabalhar?
-    Eles sabem disso?
-    Sim.
Entretanto no caminho de regresso, ouvi tocar e cantar, então aproximai-me da margem da estrada e vi o Russell e o José mais alguns...desci e vim ter com eles, quando o Russell olhou e viu-me vir na sua direcção. Quando cheguei, levantou-se e começou a apresentar-me.
-    Pessoal, está é a filha da Morgan, a Rose.
-    Vai passar algum tempo connosco.
-    Instala-te, querida.- disse o José.
Eu não liguei e sentei-me ao lado do Russell, entretanto todos começaram a apresentar-se e um deles disse:
-    Agora vives com esta coisa fofa?
-    Lembro-me quando tinhas uma todas as noites.
-    Qual de vocês ressona que nem um porco?- perguntei eu ao Russell.
-    O José, se estiver de costas.
-    Uma amiga minha ensinou-me o remedio santo para isso, é corta-lhe a garganta.
O José não quis ficar para trás e começou a cantar uma canção de uma história "porca". Quando estava chegando ao fim, o Russell olhou e viu-me a ir embora. O José viu e disse:
-    Vais para a tua casa?!
Eu nem lhe respondi, mostrei-lhe o dedo do meio, uma coisa que no meu tempo nunca se fez. E continuei o meu caminho. Á noite, já todos deitados, o Russell disse para o José:
-    Não me sinto bem a mentir-lhe.
-    Para que quer uma adolescente uma casa destas?!- disse o José.
-    Ela disse que era uma espelunca.
-    Esta melhor longe daqui.
-    Mal vendas o livro, tudo...
-    Sim, iria ser perfeito.- disse o José.
Os dias iam passando até que numa manhã o Russell levantou-se ainda meio ensonado, e foi a cozinha quando viu tudo limpo e arrumado. E viu-me com a cabeça no frigorífico.
-    Estas no eletrodoméstico errado.- disse ele.
-    O quê?
-    Se te queres matar tens de por a cabeça no forno.
-    Rapariga, acordas-te cá com uma garra.
-    José, anda ver o que a Rose fez.
-    Pará de gritar.- respondeu o José.
-    Já vi que não se foi embora.
Mandei o pano com toda a força para o lava-loiças e disse:
-    Nem vou!
-    AH, esse roupão de mulher fica-te a matar.- disse eu voltando atrás e depois indo-me embora.
-    Ficas muito giro assim vestido.
O Russell olhou para mim quando disse isto e depois para o José, encolheu os ombros e sorriu, indo-se sentar no sofá.
-    Bom dia a todos...- disse o José.
Eu estava pegando nos sacos de lixo e o José para me irritar ainda disse:
-    Ouve, desde que não andes por ai a empatar o trabalho do Russell, estou-me nas tintas.
Olhei para o José e fechei a porta dando-lhe um pontapé, então o Russell virou-se para o José e disse:
-    Tens de andar sempre a chateá-la?

-    Queres que vá ficando?- perguntou o José.
-    Já pensas-te se a ajudarmos?- disse o Russell.
-    Ajuda-la? Como?- perguntou o José.
-    Conheço-te bem...queres é ajuda-la a tirar aquelas calças...
-    Esquece, não se pode falar contigo.- disse o Russell.
-    Já esqueci.- respondeu o José.
O Verão desaparecia numa imensa exposição e humidade. E antes de começar as chuvas decidi arranjar a casa, estava pintando-a por fora e a ouvir música, enquanto o Russell escrevia.
-    Desliga, a música rapariga!- gritou o José de dentro da casa.
-    Não vês que ele esta a trabalhar?!- exclamou o José vindo a janela.
O Russell olhou para o José e em seguida para mim. O José tinha-se ido embora e eu ainda pus a música mais alta e fui me embora. O Russell começou a rir baixinho e olhou para a janela.
Segundos, minutos, horas, dias, semanas, meses iam passando até começar a aproximar-se a época de Natal. Era de manhã e eu estava no sofá ouvindo rádio e o José veio se sentar junto de mim com um copo que cheirava horrivelmente mal e disse:
-    Que cheiro horrível é este?
-    Cerveja com sumo de cenoura.- respondeu-me o José.
-    O pequeno-almoço dos campeões.
-    Só se for da mer...- disse eu.
-    Começo a fartar-me dessas tua atitude.
-    Gostes ou não sou o homem mais velho da casa e tens de me respeitar.
-    Tens de procurar emprego.
-    Eu tenho feito isso.
-    E você que passa os dias sentado a gabar os seus dias de glória.
Quando disse isto ele agarrou-me o braço, com força e disse olhando-me nos olhos.
-    Eu sou um professor, um poeta.
-    O nosso modo de vida não é da tua conta, mas és responsável pela tua parte!
-    E a vossa?!- disse eu levantando-se e soltando-me dele.
-    Vivem á borla, devia agradecer...
-    Esta casa é nossa!- disse ele levantando-se e ficando na minha frente.
-    Preferes que faça uns cobros, trazendo cá "uns amigos".
-    A Morgan não fez isso em tempos?!
-    Bolas!- disse o José mandando ao chão o rádio que estava na mesa junto do sofá.
-    Não tens respeito pelos mortos?!
-    Era a tua mãe!
-    Além disso todos sabemos que não és nenhum anjo...- dizia o José aproximando-se de mim.
-    Já tiveste dois homens duma só vez?- disse ele muito próximo de mim.
O José quando disse isto, ia tocar-me. Eu peguei no copo que ele tinha pousado e joguei-o para a sua a cara, e de seguida pisei-lhe o pé.
-    Vai-te lixar!- disse.
-    Dizes ser o homem mais velho da casa!
-    O adulto!
-    Eu não passo de uma miúda!
-    Não percebes?!
-    Estou farta dessa atitude quanto á morte da Morgan.
  Nesse momento vinha a entrar o Russell e deparou-se com este cenário.
-    Queres ensinar-me a respeitar-te?!
-    Quem é que te respeita?!- disse eu sentando-me no sofá.
-    Eu não te avisei.- disse o Russell quando o José ia a passar por ele.
-    Meu Deus!- disse ele vendo o estado em que estava.
O Russell olhou para mim e achou melhor não me dizer nada nem se aproximar. Foi a cozinha pegar um copo de sumo e depois foi para os degraus cá fora. Alguns minutos depois fui lá ter com ele e disse:
-    Eu se o que pensam de mim.
-    Eu queria ser normal mas a vida não me reservou isso.
-    O que é que te reservou a vida?- perguntou-me o Russell.
-    O que desejas?
-    Se pudesse ser eu a escolher?
-    Prometes que não te ris?
-    Não sei se posso prometer.- disse ele fazendo um sorriso carinhoso.
-    Gostava de voltar atrás no tempo e não ter cometido o erro de ir salvar o Rodr...
-    Esquece, eu só queria ter uma família e poder algum dia regressar a minha terra...
-    E posso saber porquê ou o que aconteceu.- perguntou o Russell.
-    Não sei, e acho melhor não.
-    Eu sei que é uma estupidez.
-    Não, não é nada.
  No meio da tarde, o Russell estava com a carta que provava que a casa era minha, cá fora...depois entrou e foi direito a casa-de-banho e eu estava lá, pois tinha acabado de tomar banho.
-    Desculpa.
-    Esqueci-me que tínhamos uma mulher em casa.- disse ele depois de ter fechado a porta.
Entretanto foi a cozinha, abriu o frigorifico tirou um frasco de pickles e uma garrafa de álcool. Comeu o único pickle que o frasco continha e depois deitou o que restava da garrafa de álcool dentro do frasco. Já que não havia sumo, viu se ninguém estava a vê-lo e bebia essa mistura, enquanto via a carta e foi quando aparecia e perguntei:
-    Há notícias dele?
-    Preciso de falar contigo.- disse ele virando-se para mim.







Sem comentários:

Enviar um comentário