Era
uma tarde de Agosto. Fazia
um calor abrasador, as janelas e portas abertas não chegavam para o eliminar.
Era impossível continuar trancafiada dentro de casa. Fui à minha carteira e contei
o dinheiro que me restava de uma pequena venda de biquínis. Restavam-me apenas 20euros.
Chega e sobra para meter-me no carro e ir atenuar a tensão.
Dirigi-me
ao meu armário, procurei pelo biquíni novo, cor de salmão com efeitos florais
que comprara em saldos numa loja chiquérrima. Pensar que o comprara, para o
utilizar apenas uma vez.
Coloquei-o,
fazia jus ao meu corpo nos locais correctos e lá fui eu passear à beira mar. Um
pouco mais emproada. Ao chegar à praia, foi um tédio para estacionar. Mal se
via o chão com tanto carro estacionado, uns de esguelha, outros atravessados, até
por cima dos passeios, e às esquinas das saídas…
Até
que no final do estacionamento, num canto recatado vi um vazio. Aleluia.
Achando que não, estava com sorte.
Estacionei
o carro. Coloquei-o em ponto morto, puxei o travão de mão e desliguei-o. O meu
velhote nunca me deixava na mão. E entendia-me melhor que um homem.
Lá
saí do carro. Tranquei-o e verifiquei o dito umas 3vezes. Não fosse o Diabo
tece-las. Eu adorava o meu velhote. Quando finalmente ia começar o meu passear
à beira mar, vi o senhor dos gelados caminhar pela praia apregoando os seus tesouros.
-
Olha o gelado! Quem quer gelado? Um regalo fresquinho para matar a sede.
Aproximei-me
do homem e perguntei-lhe que tipo de gelados tinha. Eu estava desejosa de comer
um dos novos gelados da Magnum, especialmente o Temptation Avelã e Bombons. E
não é que estava com sorte novamente! Paguei o gelado ao homenzinho, e pude ver
pela sua cara de consolação, que ninguém lhe devia dar muita atenção por estas
bandas. A sociedade passava por tempos difíceis. E o Coelho só dizia: “ doa a
quem doer… ” Políticos! Queria ver esse Primeiro-Ministro sustentar a casa e
criar os filhos, mais a sua vida social, só com 500euros por mês.
-
Obrigado. Boa tarde.
Prossegui
o meu destino ao compasso das ondas e da sua melodia celestial. Pouco me importando
com os gritos das crianças que brincavam no areal. A discussão de um casal. As
arrufas de amigos armados em galanteadores.
No
meio dos meus desvaneios, sofri um valente embate na cara, o gelado
desaparecera e tudo ficou negro. Foi tudo tão rápido, que só me lembro da queda
na escuridão da incerteza.
Sem comentários:
Enviar um comentário