sábado, 25 de agosto de 2012

Silêncio

Eu não gosto de ti. Disse-lhe. Há meses que a relação entre nós não ia bem. Mas jamais pensei que culminaria nisto…
    – Não gostas de mim? Ou não gostas mais de mim? Tens outro? Perguntou-me represo. Algo na sua voz mudara. E o gentil-homem que conhecera transformava as suas belas feições, nas de um monstro feroz. Bem diante dos meus olhos. Comecei por sentir medo e depois uma enorme adrenalina.
    Ao ver-me continuar calada, aproximou-se e agarrou-me pelos ombros. Obrigando-me a soltar um queixume. Com os olhos esbugalhados e a voz embargada exigiu que lhe explicasse o que se estava a passar. Apenas lhe respondi: as consequências dos teus actos. Dos meus actos? Inquiriu em voz alta. Senti a pressão das suas grandes mãos apertando-me cada vez com mais força. – Fala! Quem é ele? Perguntou-me novamente de forma hostil. – Estás a magoar-me. Disse-lhe. – Diz-me. Quem é o gajo! E eu solto-te. – Não há gajo nenhum! Eu apenas deixei de gostar de ti. A nossa relação foi um erro logo desde o início. Trás! O primeiro estalo, que levara em toda a vida dado por alguém fora da sua linhagem. – Tentei entregar-me a ti o máximo que pude, porque é contigo com quem quero ficar e tu dizes-me um absurdo destes! Gritou-me ele, sacudindo-me pelos ombros. Na boca sentia o gosto a sangue e na face a ardência da estalada sofrida. Até que estava adorando, de tal modo que devo ter começado a rir. Trás! Outro estalo, agora no lado contrário. Ainda tens o descaramento de me gozar, na minha própria cara! Esbravejou ele, jogando-me contra o chão.
Fiquei ali imóvel, prostrada no chão. Agarrada à face. Ele aproximou-se e eu tentei desviar-me. – Por favor. Pára com isto. Já chega. Só quero que sejas sincera comigo. Bolas. Implorou-me. – És um monstro. Nunca pensei que batesses em mulheres! Cuspi na sua cara. Ele fechou os olhos e engoliu me seco. Limpou a face calmamente e apenas disse: Eu não queria ter tido que tomar medidas drásticas contigo. Aprisionou-me os pulsos e prendeu-me contra o chão com o seu grande e forte corpo. – Pára. Supliquei. Tu não eras assim. – Não. Mas sou aquilo que vês agora. Respondeu, rasgando-me a roupa. Se não fores minha, não serás de mais nenhum outro homem. Não suportarei a ideia de perder o meu único amor. Não depois de tudo que vivemos juntos. Não resistas.
Disse-me.
    Perder a virgindade antes do casamento, era igual a estar perdida. Sem valor. Usada. Um objecto sexual para todos que viessem a seguir. Tentei trava-lo. Chama-lo à razão mas só dizia coisas sem nexo: “ há anos que ansiava por contornar-te as curvas todas do teu corpo. Desejo-te mais que tudo. Deste-me a volta à cabeça com um remoinho. Enchendo-me de sentimentos e sonhos férteis. Quero-te nua junto a mim. Não aguento mais. O desejo é mais forte do que eu. Não posso permitir que me abandones. ” Então eu matei-o. Eu matei o meu verdadeiro amor. Esquartejei-o. De alto. Abaixo. Cada centímetro do seu apetecível corpo. E delirava de prazer.
    Internaram-me no hospício e deram-me como maluca. Talvez até tivessem razão. Eu mesma, até hoje nem sei ao certo o que se passou comigo. Hoje já sã, caminhando pelas vielas que a vida possui. Vejo inúmeros casais enamorados e os seus frutos. E pergunto-me: como seria se ele ainda estivesse aqui e eu tivesse-lhe dito logo a verdade? Apenas…

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