Eu
não gosto de ti. Disse-lhe. Há meses que a relação entre nós não ia bem. Mas
jamais pensei que culminaria nisto…
– Não gostas de mim? Ou não gostas mais de
mim? Tens outro? Perguntou-me represo. Algo na sua voz mudara. E o gentil-homem
que conhecera transformava as suas belas feições, nas de um monstro feroz. Bem
diante dos meus olhos. Comecei por sentir medo e depois uma enorme adrenalina.
Ao ver-me continuar calada, aproximou-se e
agarrou-me pelos ombros. Obrigando-me a soltar um queixume. Com os olhos
esbugalhados e a voz embargada exigiu que lhe explicasse o que se estava a
passar. Apenas lhe respondi: as consequências dos teus actos. Dos meus actos?
Inquiriu em voz alta. Senti a pressão das suas grandes mãos apertando-me cada
vez com mais força. – Fala! Quem é ele? Perguntou-me novamente de forma hostil.
– Estás a magoar-me. Disse-lhe. – Diz-me. Quem é o gajo! E eu solto-te. – Não
há gajo nenhum! Eu apenas deixei de gostar de ti. A nossa relação foi um erro
logo desde o início. Trás! O primeiro estalo, que levara em toda a vida dado
por alguém fora da sua linhagem. – Tentei entregar-me
a ti o máximo que pude, porque é contigo com quem quero ficar e tu dizes-me um
absurdo destes! Gritou-me ele, sacudindo-me pelos ombros. Na boca sentia o
gosto a sangue e na face a ardência da estalada sofrida. Até que estava
adorando, de tal modo que devo ter começado a rir. Trás! Outro estalo, agora no
lado contrário. Ainda tens o descaramento de me gozar, na minha própria cara!
Esbravejou ele, jogando-me contra o chão.
Fiquei ali imóvel, prostrada no chão. Agarrada à face. Ele
aproximou-se e eu tentei desviar-me. – Por favor. Pára com isto. Já chega. Só quero
que sejas sincera comigo. Bolas. Implorou-me. – És um monstro. Nunca pensei que
batesses em mulheres! Cuspi na sua cara. Ele fechou os olhos e engoliu me seco.
Limpou a face calmamente e apenas disse: Eu não queria ter tido que tomar
medidas drásticas contigo. Aprisionou-me os pulsos e prendeu-me contra o chão
com o seu grande e forte corpo. – Pára. Supliquei. Tu não eras assim. – Não.
Mas sou aquilo que vês agora. Respondeu, rasgando-me a roupa. Se não fores
minha, não serás de mais nenhum outro homem. Não suportarei a ideia de perder o
meu único amor. Não depois de tudo que vivemos juntos. Não resistas.
Disse-me.
Perder a virgindade antes
do casamento, era igual a estar perdida. Sem valor. Usada. Um objecto sexual para
todos que viessem a seguir. Tentei trava-lo. Chama-lo à razão mas só dizia
coisas sem nexo: “ há anos que ansiava por
contornar-te as curvas todas do teu corpo. Desejo-te mais que tudo. Deste-me a volta
à cabeça com um remoinho. Enchendo-me de sentimentos e sonhos férteis. Quero-te
nua junto a mim. Não aguento mais. O desejo é mais forte do que eu. Não posso
permitir que me abandones. ” Então eu matei-o. Eu matei o meu verdadeiro
amor. Esquartejei-o. De alto. Abaixo. Cada centímetro do seu apetecível corpo.
E delirava de prazer.
Internaram-me no
hospício e deram-me como maluca. Talvez até tivessem razão. Eu mesma, até hoje nem
sei ao certo o que se passou comigo. Hoje já sã, caminhando pelas vielas que a
vida possui. Vejo inúmeros casais enamorados e os seus frutos. E pergunto-me:
como seria se ele ainda estivesse aqui e eu tivesse-lhe dito logo a verdade?
Apenas…
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