segunda-feira, 20 de agosto de 2012

O desprezo é isto mesmo, uma vingança desculpável


Aqui. Neste momento, no vazio do meu quarto. Eu contemplo o desprezo. Em cada fotografia que me abraça, eu posso senti-lo! Descendente em todos os ornatos.[1] Rizadas fleumáticas[2] enlouquecem-me. Já fui tudo! Já tive tudo. Agora não tenho nada. Os gira-discos… Toca a mesma música de há uma perpetuidade atrás. Recordo fragmentos de memórias enclausuradas no submundo do inconsciente. Parece que estagnei no tempo. Nada mexe, nada muda, nada… Nada. Além de mim, continua a respirar e a sofrer…
Onde estou? Que mundo é este? Já chega. Não quero mais lembrar-me! Não quero mais flashbacks do que aos outros… [tu] fiz passar. O desprezo, é um sentimento intenso. Grossaria e rejeição. Semelhante ao ódio, ainda que digam que entre ele e o amor a linha que os separe seja muito ténue.
    Estás a castigar-me pelo que antigamente. Fiz-te passar … por entre os arvoredos bravios e as brumas da incerteza. Invocaste o meu nome dúzias de vezes e eu fugi. Deixei-te à mercê da minha hidrofobia[3] e terror. Agora interrompidos no tempo, sem puder fugir mais. Remessas-me trechos frescos da minha inexistência na tua vida. O desprezo é isto mesmo, uma desmedida vingança relevável…


[1] Molduras
[2] Frias, insensíveis.
[3] Designação imprópria da raiva

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