Há semanas que não dormia direito. Era agredida por
pesadelos e suores frios. Comer já se tornara um suplício. Chegar à cama e
relaxar era tudo que desejava.
Ao chegar
a casa depois de um expediente corriqueiro e fatigante. Fechei a mão amarrotando
o comprovativo de compra do teste de gravidez que adquirira na farmácia, no
regresso. Em pânico, rezei para que o teste desse negativo. Afastei o longo
cabelo escarlate para trás e tentei recompor-me. Um
sorriso sarcástico escapou-me dos lábios, lembrando-me como tudo começara. Um
simples gelado e um hematoma.
Ignorando
o teste de gravidez, que não teria tempo nem espírito para realizar naquele
momento, escovei o cabelo rapidamente e apressei a sair para o meu segundo
emprego. Recusava-me a ficar lamentando a falta de sorte que sempre tivera na
vida. Enquanto atendia às mesas no Outskirts, passava na rádio uma música que
me deixou intrigada: “ … uma última esperança.
Encontrar-te fez-me voltar a ser criança, porque
já eras meu sem eu sequer saber, porque
és o meu homem e eu tua mulher, porque tu, chegaste sem me dizer a que vinhas. As tuas
mãos foram minhas com calma, porque foste
na minha alma um amanhecer. Foste o que
tinha de ser. ”
-
Hey, empregada. – Chamou uma voz. – Queremos outra rodada de minis para aqui!
Cerrei
os dentes com raiva e assenti com a cabeça para demonstrar que havia escutado o
pedido. Por trás do balcão, notei que o gerente bracejava para que não se
esquecesse de exibir um sorriso afectuoso aos clientes. Demonstrando obediência
ao dever, prossegui o meu trabalho. De repente uma leve dor de cabeça começou a
instalar-se e de seguida um nó estômago fez-me recordar que não almoçara com a questão
de possivelmente estar grávida. Sabia que deveria ter comido alguma coisa, mas
ultimamente vivia esquecendo-me dos horários das refeições. Esse problema
começara pouco depois daquele fim-de-semana doloroso.
Não tinha ideia de onde tiraria ânimo para
enfrentar os clientes noctívagos e exaltados que invadiam o café depois das
21h. Na esperança de acalmar o estômago, bebi um Santal de pacote e retornei à
minha labuta.
Leandro entrou ocasionalmente no Outskirts
em busca de conforto nalguns copos de álcool. A música alta era oportuna para
impedir pensamentos indesejados. Num rápido olhar, notou a presença de uma
empregada de olhos castanhos e cabelo avermelhado que se movia de um lado para
o outro com estrema agilidade.
Queria
desfrutar de uma cerveja gelada e uma ou duas horas de completa privacidade. Recostou-se
no espaldar da cadeira e esperou que o viessem atender.
-
Lynne vai atender o cliente que acabou de entrar. – Ordenara-me o patrão.
Leandro viu a empregada aproximando-se. O
seu uniforme não era mais que um top branco quase transparente que punha em
evidência os seus seios fartos e empinados. E para completar uma liga de cor preta
presa no alto da coxa esquerda. Um homem másculo enlouqueceria de desejo de
arrancá-la com os dentes. Era uma pena que fosse jovem demais. A rapariga fazia-o
lembrar-se de alguém…
- Lynne? – Interrogou-se surpreso.
-
Leandro! – Exclamei.
De
repente tudo à minha volta desapareceu. Fugir! Esconder! Ouvi o estrondo de
loiça a partir. E a porta da cozinha foi tudo o que vi…
- Lynne!
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