Então
baixei o olhar e revelei a dura verdade:
-
Eu vivi com a minha avó. Os meus pais eram pessoas tão desinteressadas que
jamais deveriam ter tido filhos. A fim de 7anos divorciaram-se. Nunca
signifiquei mais do que um fardo para ambos. Sofri com a indiferença durante muito
tempo. – Fiz uma pausa tentando ganhar força para continuar. – Jamais teria
coragem fazer o meu filho passar pelo que passei. Nesse instante ele
apertou-me a mão e com a outra acariciou-me o ventre.
-
Não estás mais sozinha. E farei de tudo para proteger-te. Não preciso que me
contes mais, já pude prever o desenlace do teu encargo… Mas Lynne, por que
razão tens medo das pessoas? Principalmente dos homens? Sofreste abusos em…
-
Não. Bem… eu e a minha avó começamos a passar por grandes apertos económicos, e
ela precisava de mim e eu tinha de concluir a Licenciatura e … aconteceu, não
quis. Aconteceu! – Retorqui afligida interrompendo-o.
-
O que aconteceu Lynne? Diz-me por favor. Não tenhas medo. Não sou ninguém para
te julgar.
-
Não. Não posso. Irás repugnar-me. Irás condenar-me. Não.
-
Lynne. Dou-te a minha palavra de Honra. Eu nunca mais te deixarei. Nem a ti, nem
ao nosso filho. Acredita em mim. Não precisas ter medo. – Suplicou-me
acarinhando o meu ventre.
-
Está bem. Então tudo começou numa rede social semelhante ao Twitter, onde recebia
variadíssimos comentários às minhas fotos mais arrojadas. Mas a única coisa que
esses comentários me faziam era rir. As fotos enganam muito…. Então os
comentários passaram a ser sistemáticos, a cada foto que colocava e sempre da
mesma pessoa. Um dia começou a meter conversa comigo pelo Chat. Não vi mal
nisso e respondi. Fui uma parva. Eu sabia dos perigos desta nova Era de
tecnologia, mas achei que conseguia lidar muito bem com eles. Daí a
encontrar-me com a pessoa foi um pequeno passo. Prometera-me dinheiro. A ajuda
financeira que precisava. Não. Não é o que vais dizer. – Disse vendo-o esboçar
algo. – Queria encontrar-se comigo em troca de companhia, nada de intimidades
mais ousadas. Da primeira vez fora muito simpático e cortês. Todo o meu corpo tremia e as minhas pernas
tinham tornando-se pesadas, até minha voz mudara. Todavia quando chegara
a hora de me vir embora como previsto. Agarrou-me os braços e prendeu-me contra
si. Só me largaria e daria a quantia que pedi se o beijasse e deixasse-o
tocar-me.
Leandro
cerrou os dentes, revoltoso com o aparato e agarrou-me as mãos. Dando-me forças
para concluir sem medos o ocorrido. E eu prossegui:
-
Eu precisava muito daquele dinheiro. Eu tinha-me predisposto de livre vontade a
isso. Fora fraca. Eu mereci…
-
Não. Não voltes a dizer isso. Fizeste o que qualquer pessoa em desespero faria.
- Disse-me estreitando as minhas mãos nas suas.
-
Eu... Eu deixei. Aqueles breves minutos tornaram-se horas infindáveis. Tentava
sempre esquivar-me e dizer-lhe que estava atrasada. Tentara ensaiar telefonemas
falsos. Até que alguém passou por detrás do carro e me salvou. Ele largou-me.
Meteu-me um arrolado volume de notas na mão e entrando no carro partiu. Poucos
minutos depois ligou-me para o telemóvel e pediu-me para descrever-lhe o nosso
encontro e que esperaria por mim dali a alguns dias. Na segunda vez, tinha-me mentalizado
para o meu flagelo e acabei indo. Mas quando o vi a escassos metros de mim. Eu
não fui capaz. Sentir as suas mãos percorrendo o meu corpo novamente, possuído
de desejo e excitação e os seus beijos pegajosos sujando-me a alma. Não.
Desatei a fugir. – Disse chorando e abraçando o meu próprio corpo. Ele viu e
abominou tal atitude. Eu mentira-lhe e usara-o para extorquir dinheiro. Quando
achei que lhe escapara, uma mão surgiu do nada e tapou-me a boca. Ele agora
queria vingança e queria-me a mim. O meu corpo, a minha virtude. Não sei se foi
Deus, sorte, destino. Não sei. Mas antes que me usurpasse a decência que ainda
conservava. Consegui encontrar uma pedra e deferi-lhe um golpe na cabeça.
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