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A senhorita está-me ouvindo? – Perguntou o médico ao notar-me ausente.
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Acho que terá começar tudo de novo, doctor. – Disse Leandro enquanto segurava a
minha mão e a apertava carinhosamente.
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Precisa tomar mais cuidado de agora em diante. – Advertiu-me o médico lançando
um olhar de censura a Leandro. – Além da desidratação, também está anémica, o
que é comum no primeiro trimestre da gravidez. Porém muito perigoso para a
saúde do feto.
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Acontece que…
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Minha querida. – Disse o médico, interrompendo-me. Se pretende ter esse bebé,
precisará fazer algumas mudanças na sua vida. A primeira recomendação é repousar
durante 24 horas, seguido de um mês de actividades leves. Está a precisar de
muito descanso e refeições equilibradas. Vou-lhe prescrever algumas vitaminas e
principalmente beba muita água. Depois que o soro terminar, já pode ir para
casa. – Concluiu entregando-me a receita e saindo.
Sem
que esperasse, Leandro estendeu o braço e apoiou a mão sobre o meu ventre.
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Esta noite, não estás sozinha.
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Eu sei que…
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Chiu. Minha querida. – Disse silenciando-me a boca com um dedo. – Teremos muito
tempo para conversa. Agora descansa.
Leandro
ergueu-se da cadeira e, por um instante, achei que ia morrer. Ele estava indo
embora. Lágrimas afloraram-me os olhos e tive a sensação de que ia desfalecer.
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O que se passa Lynne? Só estou indo ao bar do hospital. Queres que te traga
alguma coisa? Afinal ainda comeste! Ficas bem se me ausentar por uns minutos?
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Claro que sim.
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E o que gostarias que te trouxesse?
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Talvez umas bolachinhas se existirem algumas de jeito e um batido. Não faz
diferença o sabor. – Disse ainda sentindo o estômago agoniado.
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Aproveita e descansa.
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Era o que pretendia fazer. – Retorqui.
No fundo, não queria que ele se afastasse.
Contudo não acreditava que a sua capa de bondade durasse muito tempo. Iria ser
pai! Saber a notícia assim de repente devia tê-lo deixado abalado e resignado
pelo facto de possivelmente nunca ter vindo a saber. Ou então, particularmente
e mais acertada, a razão de que a sua vida acabara de mudar. Restava saber se
reconheceria a criança ou a rejeitaria…
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Olá dorminhoca. – Disse-me Leandro sorridente. – Sentes-te melhor? Precisamos
convidar.
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Não há razão para essas formalidades. – Respondi esboçando um sorriso. – Já estou
pronta para ir embora.
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Não tão rápido. Respondeu sentando-se na beira da cama e segurando-me a mão. – Não
conseguirás suportar passar uma gravidez praticamente sozinha, sem ajuda. Deixa-me
ajudar-te. Deixa-me fazer parte da vida do nosso filho. – Implorou levando a
mão que segurava a minha até à minha barriga. – Eu não sei quase nada sobre ti.
E
tu muito menos sobre mim. É verdade. Aconteceu tudo muito depressa. Mas sei que
tens um trauma qualquer. Tu tens medo das pessoas, principalmente dos homens.
Ainda que demonstres ser forte e rija por detrás desse teu temperamento
selvagem. Pergunta-me o que quiseres sobre mim. Dir-te-ei quem sou. Farei o que
for. Mas confia em mim. Conta-me o que se passou. Não me afastes. Por favor,
Lynne. Eu quero tanto essa criança quanto tu. Sempre quis ser pai.
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