Todos os dias aquela menina de olhos
infelizes e muda percorria espectralmente os corredores da casa. Seu pai
mesmo assim continuava o mesmo frio e calculista de sempre. Para ele, dinheiro
era tudo. Então se tivesse um estatuto nobre melhor ainda.
Quando a dor costumava
apertar, debruçava-se sobre a janela olhando a lua e contemplando o mar.
Durante muito tempo viveu assim. E só ia piorando. Além da dura perda. O seu
pai não mudava de atitude. Perdeu todo o alento. Continuar a viver esta vida,
só a faria sofrer. Decidida a por fim ao tormento. Esperou que toda a casa
caísse no sono profundo. Depois saiu de fininho para a rua, em direcção às ondas que
terminavam no tremendo areal. As ondas esperavam-na
de braços abertos. Um sabor salgado invadia-lhe a boca e inundava-lhe os
pulmões. Elas estreitavam-na
no seu seio e puxavam-na para as suas profundezas. Ficou cega, sufocada e
enleada pelo frio salgado da água. Pensou estar a morrer. A consciência de toda a sua vida…isto era apenas uma
caminhada solitária para o precipício, do fim de uma almejada felicidade.
As estrelas precipitavam-se
no céu e explodiam adiante. Porém, a sensação de desamparo foi substituída pelo
abrigo de um corpo forte. Não conseguiu ver a sua identidade, pois o cabelo
cobria-lhe o rosto. Apertou os braços em redor do seu pescoço e recebeu com
desagrado a segurança de terra firme. Não! Não tinha esse direito!
-
A menina está doida!
Mas
nenhum gemido ouvira. Não saberia quanto tempo permaneceu imóvel.
-
O frio deve ter tomado a tua garganta. Não se aflija. Recuperará a voz …
Isso
estava muito longe de ser verdade. Já lá iam os dias em que um dia falara. Não
era fácil manter-se desperta. Sentia-se fraca e exausta. A sua tentativa de
suicídio tinha sido reciprocada.
-
Que farei consigo agora? Nem a conheço.
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