sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Look out the Window... Capitulo 7


Desespero. Angustia. Medo. Aflição. Fizera amor pela primeira vez. Com um desconhecido e… sem protecção. Mas onde raio tinha a cabeça! Brownie olhou para mim do meio da porta e aproximou-se.
- O que se passa Brownie? Tens alguma coisa para acrescentar ao maior erro da minha vida?
A cadela fungou e deitou a cabeça na minha perna. Ela não me censurava. Estaria ali para mim. Pró o que desse e viesse. Afaguei-lhe o pêlo e acostei-me no sofá. Com um pouco de sorte não haveriam repercussões maiores e aquele erro seria passado. Não sabia nada dele. O que fazia? Sobrenome? Morada? Vida? A única coisa que sabia era o seu nome. E se era verdeiro ou não, o que importava agora?
    Segunda-feira de manhã. Taca o telefone. Saltei do sofá, assustada. Que porra! É apenas o telefone.
- Estou? Quem fala?
- É a Sra. Lynnne? – Perguntou uma voz feminina do outro lado da linha.
- Sim. A própria.
- Fala do banco Barclays. Entrou na sua conta um cheque sem cobertura. Teremos de comunicar o ocorrido à central. Caso não regularize o montante em divida.
- De quanto é a quantia mesmo? – Perguntei fazendo-me de parva.
- De 450 euros minha senhora.
- Eu ainda não recebi. Não tenho como regularizar a situação antes do final do mês.
- Então teremos de denunciar o ocorrido.
Pib pib pib pib. Maldito sonido telefónico. Claro que já esperava por este desfecho. No mês anterior deixara a janela da cozinha entreaberta e o Necas fugira. Comera de certeza, os restos de lixo doméstico nalgum contentor ali perto. Horas depois, apareceu-me à porta do prédio num estado lastimoso. Corri para a clinica veterinária mais próxima. Ao chegar perguntaram-me se podia ter sido envenenado. Envenenado? Não. Mas tudo indicava que sim. Muita sorte. Ainda tive em aceitarem um cheque como forma de pagamento e ainda assim cuidarem dele tão bem. Como quando os donos mais desafogados pagam logo com dinheiro à vista.
    Final da semana. Nunca mais chegava. Lá em cima - disse apontando as mãos para o alto. Devem ter determinado que esta a semana seria a ideal para envernizarem-me vida. De todos os telefonemas que recebia, cinco deles tinham de ser trágicos e injuriosos.
Fui ao multibanco. O meu ordenado já caíra na conta. Mas nem vê-lo. O banco usara-o na regularização do cheque careca. Estou bonita. Como vou pagar a água, luz e gás com 100euros e ainda comer o mês inteiro? Para não falar do Necas e da Brownie.
Recordei-me que na vinda para cá. Pois há dias que não tinha dinheiro nem para papel higiénico, quanto mais para gasolina. Que o café duas ruas mais abaixo da minha casa, procurava um empregada de balcão.
    Fui aceite. O dono do café já me conhecia. Via-me passar uma data de vez por ali. Ainda que não fosse uma das suas clientes habituais. Quando podia era lá que ia sempre. Desconfio também que a minha aparência ajudava-o no negócio. Conjecturas plausíveis.

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