Cheguei
ao local combinado na hora marcada. Detestava atrasos. Entrei para o
estacionamento impecavelmente limpo. O vencimento deste mês já devia ter
chegado ao fim. Um pouco mais à frente, na borda do passeio estava uma sombra
sentada. Ao ver o meu carro aproximar-se, fez-me sinal. Devia ser mais um arrumador
de carros aguardando uma boa gorjeta. Infelizmente não era uma cliente
rentável. Ainda não recebera o ordenado e continha apenas 15 euros na carteira.
Ao aproximar do local. Rapidamente. Apercebi-me que não se trava de um pedinte.
Era Leandro. Trajava umas bermudas beges, uma camiseta azul de botões estilo Rockstter
e para concluir, uns sapatos de Vela azuis Common Cut. Após estacionar no local que me tinha indicado,
apressou-se a ir abrir-me a porta.
- Não acreditava que viria. Até ver o seu carro.
– Disse-me ajudando-me a sair do carro.
- Estava para não vir. Não é meu costume sair com
desconhecidos. – Repliquei rapidamente, fechando o carro e dirigindo-me para o
restaurante.
- A propósito está muito bonita.
Corei. Mas não lhe dei troco. Estava desconfiada.
Há muito que perdera a confiança na raça viril e passara a idolatrar o juízo da
minha respeitável avó.
- Costuma vir muito a esta praia, Lynne? –
Perguntou tentando alcançar-me. Silêncio. – Não me vai falar agora?
- Vim para jantar consigo. Não para tagarelar. –
Respondi áspera.
- Que homem magoou-a tanto assim? – Perguntou-me
dando um sorriso disfarçado. Fera. Pensou.
- Isso não é da sua conta. Acho que foi um erro
ter vindo. Adeus. – Respondi retrocedendo.
- Não. Espere. Desculpe-me. – Disse Leandro
segurando-me o braço.
- Largue-me! – Clamei.
- Desculpe. Já percebi que odeia que algum homem
se aproxime de si. – Respondeu-me soltando o meu braço. – Vamos jantar. Sim?
Pensei um pouco e assenti. Dirigimo-nos então,
finalmente para o restaurante. Era recatado, tranquilo e tinha uma vista
esplêndida para o mar. Mal me ia a sentar, Leandro puxou-me logo a cadeira.
- Não precisa de tanta mordomia comigo. Eu não
acredito nessas coisas. Os homens são todos iguais. Se pensa que vou ser outra
presa a cair no seu ardil está muito enganado.
Este, nada disse. Desviou-se de mim e sentou-se.
Estava muito sério e observador. Pegou no cardápio e por entre olhares
furtivos, olhava para mim até que fez sinal, e em poucos segundos surgiu o
empregado para anotar o pedido.
- O que vão querer? – Perguntou empregado ainda
novato e provavelmente em estágio.
- Para mim pode ser filetes de pescada com salada
russa. E para acompanhar o vinho branco da casa.
- Eu não bebo. – Disse de imediato.
- Nesse caso invés do vinho, traga aquela sangria
especial da casa.
- Sim, senhor. – Respondeu o rapaz.
- Não precisa mudar os seus hábitos por minha
causa. – Respondi envergonhada.
- E a senhorita? – Perguntou-me o empregado.
- Vou querer pasta campestre com cogumelos. –
Disse sorrindo-lhe.
O empregado afastou-se. Leandro fixou os meus
olhos. Depois a minha boca. Parecia divertido com o acontecimento. A mim tudo
aquilo apenas fazia-me lembrar o meu gato Necas, quando queria atenção.
- Tenho alguma coisa na cara? – Perguntei
irritada.
- Não. Mas que tem uma boca carnuda, lá isso tem.
- Se vai começar a jogar charme para cima de mim,
está muitíssimo enganado. Não sou mais uma daquelas raparigas que caí no conto
do vigário. – Respondi mais assanhada.
O empregado aproximou-se. Senti-me constrangida.
Não queria que tivesse ouvido o final da minha frase. Nunca gostei de expor-me.
Calei-me e pus-me a contar as vezes que as ondas explodiam na praia.
- Tão madura, mas com uma aparência de brindar
aos céus. Não lhe dou mais que 20 anos. – Disse, arrancando-me dos meus
desatinos.
- O quê? 20anos? – Questionei desatando a rir. –
Tenho 29 anos. Já não sou assim tão formosa como as gaiatas que acabam de
largar os cueiros.
Ele desatou a rir. O que tinha assim tanta graça?
Viver como se já tivesse mais de 40 anos ou parecer que ainda estava na
puberdade? Ou então o facto de aparentar ser tão anti-social, que só dizia
burrices?
O
empregado chegou com os pratos. Desta vez estava calada e aparentava simpatia.
Agradeci ao rapaz e esbocei-lhe um sorriso. Ao vê-lo afastar-se, fixei-me nos
olhos de Leandro e perguntei enraivecida:
- Qual é a graça!
- A tua personalidade. És diferente. –
Respondeu-me tenramente. – Por favor, trata-me por tu. Acredita. Eu não te
quero fazer mal.
Abateu-se um silêncio constrangedor. Eu para me
acalmar e ganhar firmeza, afundei-me na sangria. E este, mais nada me disse.
- Lynne. Posso perguntar-te uma coisa?
- Pergunta.
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