O que farei a partir de agora, Meu Deus? Eu nunca quis
isto, eu nunca desejei isto. Que destino é o meu para tal? Mas afinal o que se
passa na minha vida? Só pode ser castigo por nunca ter aceitado ser pobre. Só
pode ser castigo por sempre querer ter mais para ajudar e fazer feliz os que me
eram próximos. Caramba nunca pedi nada demais. E agora isto? Só. Estou
completamente só. Sem família. Sem amigos. Sem o Puma. Sem o meu gato Tareco.
Sem nada. Nem mais honra tenho. Qual é a razão para a minha existência? Eu não
sou nada, não tenho nada e ninguém sentira mais a minha falta, que o tirano do
outro lado da porta. Que só me soube usar como uma boneca de trapos. Perante
todos estes sucedidos, apenas antevejo um desfecho.
- Lana. Lana abre a porta. Temos de conversar. Há muito
por explicar. Lana.
Nada que ele dissesse me faria abrir a porta. Era tarde
demais. Procurei por algo cortante nos armários e finalmente encontrei. Lâminas
de gilette. Podia ouvi-las chamando por mim...
- Lana! Que barulhos são esses? O que se passa?
Responde-me! Ou arrombo a porta.
- Deixa-me em paz! Já não te chega tudo que me fizeste?
Queres continuar a gozar-me ainda mais? Vai embora! Chama a polícia. Faz o que
sempre me ameaçaste. Já nada me importa mais. – E dizendo isto tomei coragem e
cortei os pulsos.
Debruçada
sobre o lavatório contemplava a minha vida, se esvaindo pelos avermelhados
fios de sangue que pintavam o que outrora fora branco. Rapidamente tudo
rodopiava diante dos meus olhos. A figura no espelho não era mais eu, mas a
imagem desfocada de uma mulher perdida.
Perdi as forças e caí no chão. O sangue seguia o seu
destino voraz e abria poças no chão da cor do rubi. A morte vinha lenta, mas
para mim isso pouco me incomodava. Já me faltara muito mais. Antes do meu
último suspiro, antes de perder a noção. Antes de partir e cerrar os olhos para
todo o sempre, eu contemplei a cara de um indivíduo. Alguém chamava apavorado o
meu nome. Chorava copiosamente agarrado ao meu rosto e murmurava: “ Porquê Lana? Oh minha Lana. O que fostes
fazer? Não me deixes, imploro-te. Quem merece morrer sou eu. Lana.. Lana!.”
Foi a última vez que ouvi o meu nome. A
última vez que ouvi aquela voz embargada, sussurrando pelo meu nome. Me chamando.
Implorando por mim. E chorando o meu adeus... Foi a última vez...
“ És tu. Só tu. O tempo todo... foste
só tu... ”
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