Perdi tudo. A dignidade, o respeito e a
esperança. E ganhei ódio raiva e ganância. Nem a porcaria da Licenciatura me
valeu.
No
dia em que me decidira a roubar, quando cheguei a casa, deparei-me como todos
os meus pertences lançados na calçada. O meu cão solto pela rua, travessando-a
assustado sem ter consciência do perigo e o meu gato... Meu Deus o meu gato.
Chegara tarde demais. Lágrimas escorriam-me pela face. O meu coração sangrava
incessantemente. Antes que se desse outra desgraça, corri para agarrar o meu
cão. E de seguida tentei remendar o aparato, mas nada havia a fazer. Já não pagava o aluguer da casa fazia meses. Como fazia meses que já não tinha dinheiro nenhum. Era
sozinha. Não tinha a quem pedir ajuda. Os meus pais nem pensar. Há anos que
nada sabia do meu pai desde que fugira com outra mulher. E a minha mãe
colocara-me logo na rua quando os meus avós morreram. Como desejo matar estas
memórias e voltar atrás no tempo para reescrever estas novas páginas vazias.
Mas não suporto mais que mintam para mim. Já chega. Como se não tivesse bastado,
estava caindo a noite e estava frio. Segurando o meu cão pela trela e com o meu
gato ao colo fui embora dali Uns quarteirões mais adiante, para minha infeliz
sorte. Fui assaltada. Roubaram-me os documentos e pouco mais havia para tirar.
Acreditei que seria mesmo o meu fim.
Tinham-me encurralado em um beco escuro. Eu apenas temia pelo meu cão. Apenas
ele, pois ladrava ruidosamente. E um dos assaltante avisara-me que se não o
calasse, o mataria. Eu tentei, mas o Puma não era parvo. E dando-me um safanão
no braço soltara-se. Foi horrível Quis morrer. Sobrevivi graças a ele, com
todo aquele barulho e confusão. Gritei pedindo socorro e tentei
desesperadamente ajudar o Puma contra aqueles bandidos. Mas fora em vão. Quando
começaram a surgir pessoas, feridos. Fugiram. Chamou-se a polícia,
participou-se o acto. E acompanharam-me a uma clínica veterinária. O Puma era
rijo. Como entrou de urgência não paguei nada à entrada. Mas depois dele estar
fora de risco. Na manhã seguinte vieram falar comigo, era certo que não tinha
como pagar os cuidados, muito menos o internamento. Fui obrigada a tomar uma
drástica decisão. E a mais dolorosa de toda a minha vida. Contei a minha situação
e pedi se poderiam ficar com ele e colocarem-no para adopção. Era um cachorinho
ainda e adorável Era o melhor para ele. E quando proferi tais palavras, fugi
dali para nunca mais voltar, sem olhar uma única vez para trás. Passei o resto
do tempo chorando e deambulando pelas ruas. Vazia de espírito, vazia do que quer
que fosse.
Uma
semana passara-se. Para mim foram anos. Vagueando pela rua, passando fome,
dormindo ao relento. Até que decidi acomodar-me nos degraus de uma Igreja e
tentar a minha sorte como pedinte.
- Lana? – Ouvi chamar.
Apesar
de estar sol, estava muito frio. E as roupas que tinha não eram as mais
adequadas. Quando olho para cima e vejo um homem parado, olhando para mim.
Devido à incandescência do sol, não conseguia ver o seu rosto. Então novamente
oiço ele proferir o meu nome.
- Por que razão estás aqui Lana? Que triste figura é esta?
- Alessandro? – Inquiri humilhada.
Ele então ajoelhou-se. E eu pude ver. Era mesmo ele. Que
vergonha. Isto não me está acontecendo. Então ergui-me o mais rápido que a minha
condição permitiu e corri para longe dali Para longe dele. Mas muito
rapidamente, uma forte mão agarrou-me um dos braços e impediu a minha progressão.
- Não precisas de fugir de mim. Não estás sozinha.
E aos virar-me de frente para ele, vi um enorme clarão e
depois tudo escureceu e fundiu-se no além-horizonte.
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