Durante mais de meia-hora estive me
mentalizando, se poderia fazer o acto que se seguiria. Roubar. Atitude feia e
ilegal. Mas ou roubava ou morreria. No dia anterior até me dirigi ao superior
do supermercado e implorei-lhe que me deixasse levar apenas um saco de ração
para o meu cão. Respondeu-me bruscamente e convidou-me a abandonar o
estabelecimento. E mais não digo. Então hoje, decidi voltar e arriscar a minha
sorte. Jamais sonhei que um dia chegaria a isto.
Mas no fim não importa mais, confiei
nos outros e dei-me mal. Tentei tão arduamente ser alguém, mergulhei no fundo
para saber o que era estar no topo. Agora já é demais...
“ Vai! Se tiveres medo. Vai à mesma! ”
- Ei! A senhora aí podia me acompanhar?
- Eu? Mas o que se passa?
Segurou-me pelo braço e conduziu-me em
direcção de uma porta cinza, com uma placa dizendo: Proibida a entrada. Apenas
funcionários.
- Esteja calada. Não queremos
escândalos aqui. – Disse-me o homem. – Entre.
- O que quer de mim afinal?
- Vamos resolver isto a bem ou terei de
chamar a polícia? Sei que roubou uma lata de comida para cão.
- Não chame a polícia. Por favor
entenda a minha situação.
- Só me interessa saber se vai paga-la
ou não. Quem não pode ter animais, não os tenha. Como vai ser?
Baixei a cabeça e silenciei-me. Devolver ou não? Não
podia ser presa, depois quem olharia por eles... Será que a minha esperança está
morrendo sozinha? Posso simplesmente virar as costas e deixar-me ir? Assistirei
impávida às suas mortes? Aguentarei tremenda dor? Recordo os seus olhos
observando-me e venerando-me como se um guardião fosse? Tanto que procurei
respostas para o que eu sabia o tempo todo e acabei me perdendo. Tudo que me
resta é uma última oportunidade. E eu não vou virar as costas assim...
- Então?
- Chame a polícia. Não quero saber. Não
vou deixar os meus animais morrerem à fome, por causa de um insensível.
- Aqui ninguém vai chamar a polícia! –
Disse um homem entrando na sala.
- Chefe?
Ergui a cabeça e olhei directamente
para a porta. Alto, moreno olhos esverdeados. De fato cinza claro. Optimista e
confiante. Algo neste cenário estava muito errado.
- A partir de agora eu
responsabilizo-me por este assunto. Podes ir.
Ainda continuava encarando-o empalecida
e apática. Sentia-me rebaixada e humilhada. Estava completamente paralisada.
Que destino será o meu?
- O que aconteceu aqui Lana? –
Perguntou-me irritado Alessandro. – Responde!
Continuava apática e imóvel Olhando-o
de olhos marejado. Quando respirei fundo e numa torrente de lágrimas, murmurei:
- Eu roubei. Por favor não chames a
polícia.
- Ei. Calma. Por favor para de chorar. –
Pediu-me ele aproximando-se de mim e fazendo-me sentar. – Ninguém fará nada
contra ti. Eu pago o que possas ter tirado.
- Não preciso da tua caridade! – Gritei
empurrando-o e deixando em cima do sofá a lata.
Saí correndo
daquele sítio e amaldiçoei-me milhares de vezes pela minha atitude egoísta
Podia ter sido humilhada, mal-tratada. Mas o pior é que optara por fazer-me de
forte e prejudicar os outros. E ainda tenho o descaramento de dizer que sofro e
nada posso fazer para os salvar. Hipócrita!
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