Mas em que lugar
estou eu? Lembro-me perfeitamente de estar na rua e agora encontro-me
agasalhada num quarto e com roupas limpas. E de repente recordo do ocorrido.
Alessandro. Sim, ele viu-me, eu fugi dele, agarraram me. E acordo agora assim
aqui. Não pode ser, estarei eu na casa de Alessandro, a escassos metros dele
por detrás da porta castanha do quarto? Não posso acreditar, no quanto eu desci
baixo nesta vida. Sempre a culta e disciplinada. A intocável e sensata. Nesta
situação, exposta literalmente para um homem, que nunca me olhou, nunca me
falou e tão pouco considerou-me como o seu “tipo”. Eu não mereço isto – sussurro
chorando. Perder o que mais amava, não fora castigo mais que cruel e desumano?
Entregar o Puma a estranhos sem olhar para trás, não era dor mais que
suficiente para o resto da minha vida? Porquê? Mas porquê? Perguntava-me enquanto,
inconscientemente me abraçava e balançava desligada de tudo a meu redor.
No meu devaneio nem ouvira o trinco
da porta estalando. Alessandro entrara silenciosamente no quarto. Encerrando a
porta e ficando parado observando.
- Lana...
Fiquei estática
imediatamente. Há quanto tempo estaria ali? Por que razão não se quis
evidenciar? O que estaria pensando de mim? Quais serão as suas atitudes?
- Lana? – Disse novamente
aproximando-se de mim. – Estás ouvindo-me?
Ao seu toque
encolhi-me e esquivei-me. Tinha vergonha de mim e muito nojo. Só queria ser
esquecida e engolida por algum buraco negro aqui na terra.
- O que se passa
contigo Lana? Sou eu o Alessandro porque razão estás com medo de mim? Que mal
te fiz?
Mesmo encolhida,
assustada e com os olhos fechados agora. Nada podia fazer para evitar a
situação. O pesadelo era mesmo real.
- Responde-me
caramba. –
Esbravejou ele agarrando-me pelos braços.
- Não me faças
mal...
- Mal? Estás parva
Lana? – Especulou Alessandro. – Afinal o que se está a passar contigo?
- Nada. Não se
passa nada. – Respondi eu rapidamente tentanto erguer-me e sair dali.
- Nem penses numa
coisa dessas. Daqui não saís. Não estás em condições. E não me continues a
mentir Lana. Diz-me o que se passa realmente.
Fizeram-se alguns minutos de
silêncio. Até que ganhei coragem e virando a cara para o lado, fixando um ponto
reluzente na janela. Desabafei o que me ia na alma.
- Perdi o emprego
de repositora na secção dos legumes e frutas. Fui despejada do meu apartamento.
O meu gato foi atropelado. Fui assaltada, e o meu cão para me defender foi
gravemente ferido. Sem dinheiro e sem documentos para o socorrer, eu tomei a
pior decisão da minha vida. Abandonei-o lá. Na clínica veterinária. Desde então
que tenho vivido na rua.
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