terça-feira, 4 de setembro de 2012

Look out the Window... capitulo 14


- Tem calma, Lynne. Eu estou aqui. Mais ninguém te vai fazer mal. Eu prometo. – Disse-me beijando-me atesta para me reconfortar.
Respirei fundo. Fechei os olhos. E prossegui.
- Nos primeiros meses recebia chamadas anónimas ameaçadoras. E um aviso, se abrisse a boca para o denunciar morreria, e não morreria só. Sem dinheiro, com medo, vergonha e nojo acabei por nunca mais atender uma chamada anónima naquele telemóvel. Até hoje nunca mais soube nada dele, mas não acredito que me tenha esquecido. Eu vi nos seus olhos a avidez de me devorar a essência.

Fiz a única coisa que me restou, os possíveis para esquecer o acto asqueroso que cometera. Nunca mais fui a mesma e nunca me perdoei. Passei a retrair-me principalmente perto de homens e a passar muito mais tempo encerrada em casa. E poucos anos depois perdi a minha avó, perdi o seu amparo, a casa que me abrigava e passei a ter a rua como casa. Até os meus animais me tiraram e mandaram abater num canil municipal qualquer. Odiavam o facto de não me conseguirem “quebrar” …. Hoje sou o que vês. Não me orgulho do passado que tive, mas não posso muda-lo. E não me arrependo do que aprendi com ele. Sabendo tudo isto que te contei, ainda queres a teu lado?
Leandro ergue-se da cama. E caminhou até à porta. Colocou as mãos nos bolsos e disse-me:
- Eu já tomei a minha decisão. Não importa o que aconteceu, o que se passou ou o que está para vir.
Ao ouvir tais palavras pude antever de mão o que me ia suceder:“ Desculpa. Mas afinal estou preparado para tanta responsabilidade. Ou então, preciso de tempo para colocar as minhas ideias em ordem. Adeus. ” Contudo, o que Leandro fez a seguir surpreendeu-me. Deu meia volta e caminhou na minha direcção. Ajoelhou-se no chão do lado da minha cabeceira, segurou a minha mão esquerda e disse:
- O teu passado é isso mesmo, passado. Infelizmente. Não posso mudar-to. Mas também ninguém é perfeito. E eu não tenho o direito de te julgar. E não és menos mulher por teres essa nódoa negra marcando a tua vida. Se bem me lembro eras, virgem quando te conheci. Sempre te mantes-te intacta e respeitável. És melhor do que aquilo que julgas ser. Não és o monstro que pintas. E por isso, embora não estivesse planejado que peço-te que me concedas um desejo.
- Um desejo? Eu? – Perguntei intrigada. – Logo eu que nada tenho. Para oferecer, além de problemas e preocupações?
- Não te desvalorizes. Apenas diz que sim. Diz que me concedes um desejo. – Implorou-me ele.
- Sim. Eu concedo-te um desejo.
- Lynne, aceitas ser minha mulher?

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