O sangue fervia-me nas veias, palpitando com tamanha
intensidade que podia jurar ser capaz de matar. Tanto tempo havia passado,
tantos acontecimentos digeridos outros por digerir, tantas mudanças. E agora
tudo ameaça voltar de novo. Sussurros invadem-me a cabeça e convertem-se em rugidos
agressivos. Théo enganara-me mais que uma vez, desprezara-me mais que uma vez,
esquecera-se de mim mais que uma vez! E durante meses continuem alimentando o
meu suposto amor por ele. Infringira todas as regras de conduta a que fora
sujeita e para quê? Ser despojada da minha essência e engravidar ainda na flor
da idade. Autêntico devaneio de adolescente cega de amores! Até o meu estômago
se contrai com o nojo desta afirmação! Solto o ar dos pulmões, apertando os
dentes mediante a raiva que me consome o íntimo.
Depois
apareceu Henrique no papel do “bom rapaz”, mas isso é algo que não existe,
ninguém dá nada a ninguém sem pedir algo em troca. “- Que te sirva de lição!” E eu nunca o amei. Será? Afastei-me de tudo
e todos após a minha perda ouvir falar somente no nome de Théo desestabilizava-me.
Ou Henrique! Visto que só me faziam recordar tudo que queria esquecer, tudo que
perdera. Apenas queria esquecer, bolas! De inicio foi complicado, Théo insistia
em procurar-me, tentava redimir-se, acho. Sei lá. Supôs que podia concertar o
passado. Um passado que morrera há muito. E depois havia Henrique a ripostar as
investidas do adversário. Não sou um brinquedo! Ainda recordo as palavras de
cada no meu consciente, naquele tom de frustração quando se corta
o êxtase de um homem a meio. Théo: “- Disseste que para ti eu já não servia que tinhas arranjado um homem melhor. Tanto reclamaste de mim Francis. Mas agora olha, olha só
para ti... a tua beleza não se vê mais...” Henrique: “- Estás pálida e
estranha, vê só o que ele fez contigo Francis ao menos eu cuidava de ti. Quando
estavas comigo sorrias mais. Agora a tua beleza não se vê mais... que te sirva
de lição.” Como tinha permitido que isto acontecesse?
O pânico se elevou dentro de mim, todos estes flashes
laceram-me a alma e mesmo após um ano, sinto como se tudo acontecesse neste
exacto momento. Novamente forço-me por respirar. Tenho de resistir a esta
avalanche de emoções! Ninguém esteve lá quando precisei, ninguém pode evitar a
catástrofe. Ninguém me pode salvam anteriormente. Sempre superei a dor e as perdas
sozinha! Foram esses dois sentimentos que me transformaram na mulher que hoje
sou! Orgulhosa e amarga! Decidida e independente. De ódio declarado à linhagem máscula.
Escolho viver a vida apagando esse maldito sentimento a
que chamam “AMOR” da minha vida para sempre.
“Não penses dessa forma, criança. Não mereces tal castigo. Existe alguém
que te ama verdadeiramente. Aguarda.. .Mas sê forte!”
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