Todos nós no nosso
dia-a-dia acreditamos que o vemos na Tv só acontece aos outros. Sonhamos com as
histórias das novelas fantasiosas que pela nossa vida passam. Por vezes
perdemos a consciência de quem somos. Esquecemos dos actos que praticámos.
Trilhamos caminhos errados na cegueira de os considerar irrefutáveis. Tomamos o
presente como algo absoluto. Então, elevam-se as forças do universo
encarregando-se de nos subjugar a elas. Quando em menos de num minuto o nosso
absoluto caí por terra e torna-mo-nos nada! Ninguém! Mais cedo ou mais tarde.
Vai acontecer a cada um de nós.
É
verdade. Também eu já fui incluída nessa avalanche cósmica. Considerar o
presente absoluto. Achar que só acontece aos outros. Ou acreditar profundamente
que acontecerão utopias como as dos “felizes para sempre” na nossa vida. Mas
isso é tudo uma mentira! É fácil escrever uma história assim ou projectar um
filme desses. Somos nós que tomamos as rédeas do guião e as acções
consequentes. E tal como foram idealizados assim serão criados. Na realidade
não é nada disso. Quando nos damos conta, já estamos no fim.
Um dia ao acordar e olhar no
espelho apercebe-mo-nos de que mais de metade da nossa vida passou e não
realizámos muitos dos nossos desejos. De que desperdiçámos muitos momentos jamais
repetitivos. Houve discussões sem justificação aparente. Perdas inúmeras
de pessoas e animais. Por orgulho, ódio, dinheiro, medo e irresponsabilidade.
Só nos damos conta de tal factos quando estarmos cansados e enfraquecidos.
Nessa altura nada mais há a fazer que recordar e “brincar” com as memórias que
voltam para assombrar.
Olhando
ao espelho novamente, já sem nada nem ninguém. Em uma cadeira de baloiço, de
cabelos grisalhos, mãos enrugadas, expressão pesada. Na solidão em que se torna
a vida. Afagando o pêlo do único ser que permanece a meu lado indiferente à
minha dor e à extinção do meu receptáculo, compreendo como tive tudo que fora necessário para mim e nunca
pude dar o devido valor nem aperceber-me de tal. Já fui criança, já tive
família, já fui feliz, já tive posses, já sonhei, já me apaixonei, já amei.
Sofri também. Bem como tive sorte. Porém, a ínfima durabilidade dos
acontecimentos deixara-me sempre a ansiar por mais até não ter mais nada.
Nostalgia abala-me os alicerces da razão. Pensei que poderia mudar o mundo
através de mim, no entanto só eu é que fui mudando por causa do mundo. Nunca
desisti, até agora. Todavia sinto o meu fim chegando tão devagar, e como
conseguinte arrastando-me para um poço de tristeza sem fim. Ainda acreditei
puder fugir. Tentei. Chorei. Mas nem as lágrimas podem mais aliviar-me a dor.
Nem mesmo elas já retratam o que devem retratar. Mais cedo ou mais tarde vai
acontecer a cada um de vós... Mais cedo ou mais tarde vai acontecer.
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