A manhã já vai
alta. O sol brilha no topo do seu trono. Dois dias se passaram desde a minha
estupidez infantil com o canivete. Resta agora uma cicatriz ainda inflamada,
mal sarada tal como o meu coração. Que insisto em ocultar com acessórios
femininos e clichés casuais e romancistas.
Vim passear um pouco sozinha. Precisava
esquecer o sucedido. Além do choque inicial, o pior estava para vir nos dias
seguintes. Théo esquecera-me por completo, assim como acontece quando acordamos
de um sonho. Neste caso pesadelo. Apagou-me de tudo que pudesse manter-nos em contacto.
Desligou o telemóvel. Só a morada permanece idêntica. Mas com a distância que
nos separa, nem quero mais saber. Se assim foi, é porque não quer que vá
atrás. Tem outra, esqueceu-me. Conseguiu o que sempre desejou de mim e o que
todos os homens ambicionam que lhes aconteça na vida. Possuir uma virgem.
Burra! Ah e tal... é o tal. Nem é como os outros. Tão diferente, educado. Tão
sério. Petas! Calhau!
- Hey. Desculpe? –
Disse uma voz grave atrás das minhas costas.
- Sim? – Respondi,
virando-me para a pessoa.
- Não...
- Henrique?
- Quem diria que um
dia nos encontraríamos. – Disse ele sorrindo.
- Pois. Deve ser
destino...
Estava
envergonhada. Sem jeito perante Henrique. Conhecera-o numa feira local. Esbarramos
um no outro. E com o meu feitio indomável desatei logo a
protestar. Ele parecia sofrer do mesmo, olhava-me impavel sem dizer nada.
- Então..., bem o que te trouxe aqui? Pareces triste.
- Nada. Não quero falar de problemas e cenas tristes.
- Hum... posso pagar-te um gelado? Algo do género? Se
quiseres desabafar.
Como continuava serena e quieta. Pude observar
desconforto no seu rosto. Estava com medo que tivesse dito algo que me
assustara.
- Bem..., sim. Acho que sim. Desde aquele encontro
deveras aparatoso. – Respondi esboçando um ligeiro sorriso.
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