O presente trabalho tem como base
analisar os perigos químicos, amatoxina e muscarina, presentes em alguns
cogumelos, uma vez que o consumo destes, na alimentação, tem vindo a crescer
nos últimos anos, ao serem apreciados em muitas dietas europeias e orientais, e
pelo seu elevado conteúdo proteico permitindo a sua introdução na dieta das
populações de países em desenvolvimento e com alto índice de desnutrição. Como
também ao nível das drogas psicotrópicas (Brandão,
2011).
Ao retorcer vários anos para trás,
observa-se que os acidentes tóxicos, decorrentes na humanidade, se restringiam
essencialmente, ao contacto ou ingestão com determinados seres vivos e à
inalação de gases ou vapores oriundos da actividade eruptiva dos vulcões e dos
incêndios (Brandão, 2011).
A este fenómeno dá-se o nome de
Micetismo. Intoxicação ou envenenamento causado pela ingestão de cogumelos que
contêm ou produzem substâncias que não podem ser decompostas pelos processos
digestivos e metabólicos do nosso organismo, e que ao serem absorvidas, causam
diarreia, alucinações, insuficiência hepática e renal, e em alguns casos pode
provocar a morte (Morgado, 2009). Mas os
sintomas variam muito em função da quantidade e espécie ingerida (Polichetti, 2007).
Existem quatro categorias de toxinas nos
cogumelos:
·
Veneno protoplasmático -
causa a destruição generalizada de células, seguida de falência dos órgãos;
·
Neurotoxinas - causam
sintomas neurológicos como profusa transpiração, coma, convulsões, alucinações,
excitação e depressão;
·
Irritantes
gastrointestinais - produzem rapidamente náusea passageira, vômitos, dor
abdominal e diarreia;
·
Toxina tipo Dissulfiram
(dissulfato de tetraetiltiuram) - só são tóxicos aquando da ingestão de álcool
nas 72 horas após ingestão de cogumelos.
Praticamente todos ou
quase todos os cogumelos podem ser agrupados em uma das categorias já citadas,
dos quais Amanita
Phalloides, Conocybe Filaris, Amanita Verna, Amanita Virosa, Galerina
Marginata, Inocibe e Litocybe, enquadrados nos venenos plasmáticos e
neurotóxicos (Viseufunghi - Sol, 2007).
Os cogumelos são consumidos como
uma iguaria, e particularmente pelo seu aroma e texturas específicas. Para além
disso, são ricos em vitaminas B1 e C, riboflavina, niacina e biotina, em
aminoácidos essenciais e em sais minerais, nomeadamente, sódio, potássio e
fósforo. Em termos comparativos, o valor nutritivo dos cogumelos pode ser
equiparável ao do leite e da carne, sendo significativamente mais nutritivo que
a maioria dos legumes apesar de partilhar os benefícios dos frutos e legumes
pelo baixo teor de calorias e não têm colesterol (Micosylva, 2011).
Em Portugal, existe a habitual
tradição de apanhar cogumelos, sobretudo na região de Miranda do Douro e no
Baixo Alentejo. Sendo posteriormente, consumidos assados com um pouco de sal,
no convívio das tabernas ou em casa e nos restaurantes, cozinhados na feijoada,
mexidos com ovos ou fritos com carne do porco
(Micosylva, 2011). Mas grande parte das vezes, este acto resulta em de
intoxicações agudas, que consequentemente podem levar à morte, devido a insipiência, confusão no acto da colheita ou
através de métodos populares. Contudo, em
Portugal, a verdadeira dimensão deste problema é desconhecida devido à escassez
de literatura científica, muitas vezes desactualizada e desajustada (Brandão, et al., 2011).
Todavia, ao contrário de Portugal, no resto
da Europa, encontram-se em maior número
dados estatísticos relativos a intoxicação por cogumelos, tanto a nível
alimentar como psicotrópico.
As amatoxinas existem em várias
espécies de cogumelos, como a Amanita Phalloides, Amanita Virosa, Amanita
Verna, Galerina Marginata, pertencentes ao grupo
octapeptídeos bícíclicos formados por pelo
menos 9 compostos diferentes,
ou seja, as suas toxinas não são destruídos mesmo que os cogumelos sejam
cozinhados (Leandro, s.d.).
Devido à sua elevada toxicidade são responsáveis por cerca de 90% das
intoxicações. Uma intoxicação por amatoxinas apresenta uma taxa de mortalidade
de 10% a 30% (Freitas, 2013).
Das 6000 espécies de cogumelos
existentes na Europa apenas 180 são tóxicas, existindo muito poucas que
contenham uma toxina cuja ingestão seja fatal para o ser humano, como é o caso
da Amanita Phalloides (cicuta verde) (Brandão,
2011).
A espécie é originária da Europa,
mas pode também ser encontrada nas Américas, Austrália e Ásia. A Amanita
Phalloides habita florestas, normalmente junto de carvalhos, nogueiras e/ou
coníferas (Wikipédia, 2014). É um
cogumelo micorrízico e o seu
período de frutificação dá-se no Outono.
Inicialmente
começa por possuir um chapéu ovoide e quando tinge a idade
adulta passa a convexo. Cutícula
facilmente separável e viscosa em tempo húmido e luzidia em tempo seco e
de textura fibrosa. De cor verde-amarelado
não uniforme, por vezes mais ténue ou mais bronzeado.
A toxicidade tem origem em três
tipos de toxinas presentes nesta espécie: falotoxinas, virotoxinas e
amatoxinas, em particular a α-amanitina, que é responsável pela maioria dos
danos provocados. Calcula-se que apenas 50g de Amanita Phalloides sejam
suficientes para provocar a morte de um ser humano adulto, e que a espécie seja
responsável por 90% dos envenenamentos por cogumelos anuais (Freitas, 2013).
As Amanitas são seres pertencentes
ao reino Fungi, que não apresentam actividade fotossintética, obtendo os seus
nutrientes através de matéria orgânica em decomposição.
A maioria das mortes resulta das
parecenças notáveis da Amanita Phalloides com o Volvariella Volvacea, um
cogumelo inofensivo, comestível e muito saboroso que é apreciado como petisco
gastronómico (Wikipédia, 2014).
A espécie é originária do noroeste
do Pacífico. Amplamente disseminado por
relvados e lascas de madeira. Possui uma tampa cônica acastanhada e o seu caule
é de 2mm de espessura e 1-6cm de comprimento. Costumam ser muitas vezes,
confundido com Psilocybe
cyanescens e Psilocybe
subaeruginosa (Wikipédia, 2013).
Fungo encontrado na Europa, de chapéu hemisférico
quando ainda jovem e convexo a plano, e deprimido na maturidade, a margem é
direita, lisa, não estriada, regular e por vezes ligeiramente franjada e rugosa
na fase adulto. A cutícula é separável, lisa e viscosa em tempo húmido e
acetinada em tempo. Emana um forte cheiro a açafrão. Aparece em solos calcários
e florestas de carvalho, incluindo coníferas. Pode ser
confundido à primeira vista com espécies comestíveis como Agaricus Arvensis ou
Psalliotas, Bispora Agaricus, Agaricus Campestres e Agaricus Silvícola (Todacultura, s.d.).
Tanto o Amanita Verna como o Virosa
são tão perigosos como Phalloides, embora menos abundante. É um cogumelo
micorrízico e o seu período de frutificação dá-se na Primavera.
A Amanita Virosa, vulgarmente
conhecido como “anjo destruidor europeu”, é um fungo venenoso letal. Encontrado em bosques mistos, de solo musgosos e perto
de várias árvores decíduas e coníferas (Wikipédia,
2014). Os espécimes prematuros destas espécies assemelham-se a várias
espécies comestíveis, aumentando o risco de envenenamento acidental. Juntamente
com outros membros, do mesmo género, é um dos cogumelos mais venenosos
conhecidos. A sua principal toxina é a α-amanitina, causadora de danos no
fígado e rins.
Possui inicialmente um chapéu
ovoide, e em adulto aplanado com
a margem lisa que se torna progressivamente mais involuta com a idade,
frequentemente assimétrico, de forma irregular e pouco carnudo. Detém odor
fétido. De cutícula separável e viscosa em tempo húmido e acetinada em tempo
seco. De cor Branco-leitoso a
branco-marfim, com tons ocráceos na zona central.
Conhecem-se apenas alguns antídotos,
um dos quais um composto obtido do cardo-leitoso (Silybum spp.) (Wikipédia, 2014).
A espécie encontra-se em florestas
de coníferas e folhosas da América do Norte, Europa, Ásia, Japão e também
Austrália. De cor acastanhada, superfície viscosa e aparência oleosa, pode ter
até 6cm de comprimento e 9mm de largura. Possuidor de um odor suave semelhante
ao de esmagar a carne entre os dedos
(Mushroomexpert, 2004).
Um dado importante é que não são
apenas as substâncias tóxicas produzidas pelos próprios cogumelos que podem ser
prejudiciais, também as substâncias do meio ambiente que neles se acumulam,
como os metais pesados entre os quais o cádmio, o chumbo e mercúrio. Além disso
a radioactividade também contribui para a toxicidade dos cogumelos como provaram
as análises efectuadas após o acidente nuclear de Chernobyl em 1986 em que
encontraram altos teores de iodo e césio (Brandão,
2011).
A amatoxina é
responsável por lesões hepáticas e renais e efeitos encefalopáticos. O
mecanismo de acção é explicado pela inibição da RNA-polimeraseII, interferindo
assim, na transcrição do RNA e DNA, afectando a síntese proteica de vários
tecidos, principalmente do fígado, rins, cérebro, pâncreas e testículos. Sendo rapidamente absorvida ao longo do intestino, 60% a toxina é excretada na bíle,
seguindo para a circulação enterohepática
(Rodrigues, 2013). A sua acção manifesta-se em média 12h após a
sua ingestão, podendo no entanto o período de latência chegar às 24h (Freitas, 2013).
A dose letal para um adulto é de
0,1mg/kg, logo a ingestão de 20 a 25g pode ser fatal uma vez que implica o
consumo de 5 a 8mg de amatoxina (Freitas, 2013).
Noventa porcento dos casos de
Micetismo no Mundo são causados pelo cogumelo Amanita Phalloides. Mas esta intoxicação de
prognóstico reservado, em menores de 10 anos, atingiu cerca de 51% (Silva, 2014).
Todos os anos quando se dá a
frutificação de cogumelos, no Hospital do Espírito Santo, em Évora, surgem
novos casos de intoxicação por cogumelos venenosos, grande parte dos casos,
prendem-se com a apanha de Amanita
Ponderosa, conhecida no Alentejo como “silarca”, por confusão desta, com
a espécie mortal Amanita Verna (Oliveira,
2009). O mesmo se passa no Hospital Geral de Santo António (Rodrigues, 2013).
A presença de imigrantes marcadamente micófilos, oriundos
dos países eslavos e de língua romena, cujos hábitos de consumo se alargam a um
número de espécies bastante elevado, coadjuvam para o aumento destes surtos (Oliveira, 2009).
Em 1912 existe uma
alusão a três casos de mortes por ingestão de Galerina Autumnalis, e desde então que têm
surgido novas intoxicações com cogumelos do gênero, incluindo Galerina
Marginata, realidade nada incomum na Catalunha
(Carrasco, 1984).
Num estudo com 205 casos de
intoxicação por amatoxinas tratados na Europa Central no período de 1971 a
1980, a mortalidade global rondou os 22.4%. Em França, de 45 pacientes tratados
nos anos de 1984 a 1989, a mortalidade global foi de 17.8% e, em crianças com
idade inferior a 10 anos, de 33.3%. Uma taxa de mortalidade global muito
superior (40%) foi observada, num estudo búlgaro, que incluiu 25 pacientes
tratados, num período entre 1991-1998 (Leite,
2011).
Nos Estados Unidos, em 1998, a
Associação Americana de controlo de envenenamentos reconheceu 9839 exposições a
toxinas
de cogumelos, sendo que 50% dos casos ocorreram na faixa etária pediátrica (Silva,
2014).
Entre
1990 e 2008 foram
analisados todos os processos clínicos de casos internados em dez Unidades
Hospitalares, notificados com o código 988.1 do GDH (intoxicação aguda por
cogumelos). Estas unidades Hospitalares incluíam, as três unidades que em
Portugal se realizam transplantem hepáticos. Identificando-se 93 casos de
intoxicação aguda por cogumelos, com um pico superior entre Setembro e Dezembro
e, um segundo, na Primavera (Brandão, et al.,
2011).
Cogumelos
silvestres colhidos por pessoas não especialistas (cogumelos crus, frescos,
grelhados, em conservas caseiras, cozidos em molho de tomate, e cogumelos
branqueados e congelados em casa) (Venâncio,
2003).
O começo dos sintomas iniciam-se partir de 6 a 24
horas (geralmente 12 horas). E divide-se em três fases (Brandão, et al., 2011):
Fase
1 –
Toxicidade gastrointestinal: náuseas, vómitos, cólicas abdominais e diarreia
aquosa.
Fase
2 –
Melhoria clínica temporária. Devido
em parte à rehidratação por via oral. No entanto, é nesta fase que a lesão hepática é mais
notória.
Fase
3 –
Falência hepática, renal e, por vezes, pancreática. Esta fase do síndrome
hepatotóxico pode ser letal, logo na primeira semana após a ingestão dos
cogumelos.
A intoxicação por amatoxinas (grupo
de octapeptídeos biciclícos) causa necrose celular,
especialmente no fígado e nos rins, conduzindo à morte por falência hepática e
insuficiência renal aguda (Instituto nacional de
medicina legal e ciências forenses, 2014), gastroenterite tardia – dores
abdominais intensas, náuseas, vómitos, e diarreia profusa, resultante do efeito da amanitina nas células epiteliais
gastrointestinais (Rodrigues, 2013).
Hipoglicemia e elevado nível de amónia na urina.
Aspiração
nasogástrica e
administração de carvão activado, nas intoxicações por cogumelo detectadas
ainda recentemente (60-100g). Fornecer fluídos intravenosos para repor as
perdas consequentes dos vómitos e diarreia. Administra glicose e proceder à
correcção de coagulopatia (Brandão, et al.,
2011). Numa fase mais avançada do micetismo ministrar medidas intensivas
de suporte para a insuficiência hepática (transplante de fígado se houver
necessidade) (Rodrigues, 2013).
Tal
como já foi referido na introdução, existem quatro grupos de toxinas presentes
em cogumelos. A toxina muscarina é colocada no grupo das neurotoxinas que
contêm compostos que causam sintomas neurológicos, como suores, coma,
convulsões, alucinações, excitação, depressão, etc. (FDA, 2012).
A
ingestão das espécies Inocibe ou Clitocybe, resulta numa doença caracterizada
principalmente por suores intensos. Este efeito é causado pela presença de
níveis elevados (3% a 4%) de muscarina. Envenenamento por ingestão de cogumelos
com muscarina é caracterizado por um aumento da salivação, transpiração e
lacrimação, com aparecimento de sintomas entre 15 a 30 minutos após a ingestão
do cogumelo. Com doses elevadas, estes sintomas podem ser seguidos por dor
abdominal, náuseas, diarreia, visão embaçada e dificuldade em respirar. A
intoxicação geralmente desaparece dentro de 2 horas. As mortes são raras, mas
podem resultar em insuficiência cardíaca ou respiratória, em casos graves. (FDA, 2012)
A muscurina foi inicialmente identificada e extraida do
cogumelo Amanita Muscaria em 1869, no entanto veio-se a descobrir que a quantidade
desta toxina, neste cogumelo, não era significante (> 0,002 %) . Mais tarde
a muscurina foi indentificada noutras espécies fungicas como o Inocibe e o
Clitocibe que se estima conterem cerca de 0,1 a 0,3 % de muscarina.
As
espécies do género Inocibe são cogumelos de pequenas e médias dimensões,
caracterizados por serem cabeças fibrosas, visto que o seu chapéu é composto
por hifas dispostas radialmente que causam a divisão do chapéu numa forma
radial. Um grande número de espécies Inocibe contém níveis significativos de
muscarina.
Muitas
espécies do género Inocibe como Inocibe Fastigiata e Inocibe Geophylla contêm
muscarina, no enquanto, a espécie Inocibe Erubescens é a única conhecida por
ter causado mortes em humanos.
Entre o
género Inocibe destaca-se o Inocibe-violeta, Inocybe Geophylla, que pode ser encontrado no Alentejo.
Este Inocibe tem o chapéu liso, lilás-violáceo, com 1-4cm de diâmetro. O pé é
esbranquiçado, com 2-6cm de comprimento. Encontra-se em azinhais, sobreirais e
pinhais e frutifica no Outono. (Naturdata, 2012)
Além do
Inocibe, o Clitocibe é outro género de cogumelos tóxicos que apresentam a
toxina muscarina.
O
cogumelo do género Clitocibe é constituído por centenas de diferentes espécies,
poucas são comestíveis e algumas são tóxicas pois apresentam muscarina. Os
cogumelos deste género são caracterizados por apresentar chapéus brancos,
cremes ou até lilases. Este género de cogumelos é maioritariamente saprófita ou
seja, alimentam-se da matéria orgânica dos solos.
Torna-se
bastante difícil distinguir as diferentes espécies de Clitocibe. Desta forma é
essencial a sua análise ao microscópio antes da sua ingestão.
O
consumo de duas espécies, Clitocybe acromelalga do Japão e Clitocybe amoenolens
da França, levou a vários casos de eritromelalgia ou Doença de Mitchell que
durou de 8 dias a 5 meses. A eritromelalgia é uma doença vascular que causa
crises repetidas de rubor, edema, dor e hipertermia sobretudo nas extremidades
dos membros inferiores.
Entre o
género Clitocibe destacam-se duas espécies em particular, o Clitocybe dealbata
e Clitocybe rivolosa, que contêm muscarina em quantidades mortais.
O
clitocibe dealbata apresenta um tamanho pequeno, o seu chapéu é convexo e
deprimido no centro, com uma variação de cores entre o cinzento, o branco ou
castanho claro com creme e manchas rosa. Esta espécie apresenta um aroma suave
a farinha, ervas aromáticas. O seu sabor é doce. Esta espécie pertence ao grupo
dos Clitocibes tóxicos brancos e é por vezes confundida com a espécie
Clitopilus prunulus, que é comestível, e com a espécie Clitocibe. Fimiphila,
igualmente comestível (Fichas Micológicas,
2012).
A espécie Clitocibe rivolosa caracteriza-se por apresentar
cor branca, com um chapéu em forma de funil com 3-4 cm de diâmetro. O estipe
fibroso é de até 4 cm de altura e não tem anel. Encontra-se em solo arenosos e
em bordas de caminhos ou estradas. Esta espécie é por vezes confundida com o
Clitopilus prunulus e o Pleurotus eryngii
(cogumelo ostra), ambos comestiveis
(Fichas Micológicas, 2012).
Muscarina
e a acetilcolina são semelhantes estruturalmente e têm efeitos clínicos
comparáveis nos receptores muscarínicos. A muscarina provoca efeitos sobre o
sistema nervoso periférico usando a acetilcolina (mensageiro químico). A
muscarina não causa efeitos no sistema nervoso central pois esta não migra para
o cérebro. A muscarina liga-se aos receptores de acetilcolina. A Muscarina
permanece mais tempo no receptor. Os receptores com maior afinidade pela muscarina
são os receptores das glândulas parassimpáticas e dos músculos lisos (Goldfrank, 2004).
A muscarina não é afectada pelo
calor, não é afectada pelos ácidos digestivos e é eliminada na urina.
A dose letal de um adulto é de
180-300 mg de muscarina e a dose letal da espécie fastigiata Inocibe é de
81-136 g de cogumelos secos (Centre Hospitalier
Regional Universitaire de Lille, s.d.).
Foram
registadas uma série de 248 incidências de ingestão de cogumelos com muscarina
que resultaram em intoxicações no sul da França, entre 1973 e 1998. As 248
inicências foram analisadas em 483 pacientes. A média do início dos sintomas
foi de 2 horas. Os sintomas mais frequentes foram transpiração (96% dos
pacientes), vómitos (70%), diarreia (62%), hipotensão (36%), dor abdominal
(32%), visão turva (22%), bradicardia (20%), rinorreia (6%) e lacrimação (6%).
Do total dos pacientes, 58% foram tratados no hospital, e os tratamentos
variaram entre a utilização de atropina (24% dos 483 pacientes), carvão activado
(21%) e lavagem ao estomago (6%). O tempo médio de recuperação foi de 13 horas
sem modificação para os doentes tratados com atropina ou carvão ativado.
Entre
1999 e 2009 houve 35 mortes registadas no AAPCC (American Association of Poison
Control Centers) por ingestão de cogumelos, mas nenhuma destas mortes foi
atribuída à muscarina.
Para as
22 exposições à muscarina durante 2009, relatadas à AAPCC, 63% dos casos não
sofreram efeitos ou sofreram efeitos menores, 14% sofreram efeitos moderados e
0% sofreram efeitos graves.
Em
2009, 5902 casos de ingestão de cogumelos foram notificados ao (AAPCC). Do
total de casos, 77% destes envolveram cogumelos de natureza desconhecida. Foram
contabilizados 22 casos de ingestão de cogumelos contendo muscarina, dos quais
um caso envolveu uma criança com menos de 6 anos. Cerca de 18% de todos os
casos que envolveram muscarina, resultaram de ingestões intencionais e 64%
destes casos foram tratados em unidades de saúde. Em 27 anos de recolha de
dados pelo AAPCC, nenhuma morte de cogumelos contendo muscarina foi registada (Chyka, 2011).
A
maioria dos casos registados da ingestão de cogumelos com muscarina resulta da
ingestão de cogumelos secos, apesar de igualmente existirem casos de
intoxicações através da ingestão de cogumelos frescos e congelados.
A
síndrome muscarínica é o resultado da acção da muscarina. A muscarina está
presente numa quinzena de clitocybes: Clitocybe branco de cério (Clitocybe
cerussata), Clitocybe branco-marfim/branco blanchi (C. dealbata) e em cerca de
quarenta inocibes: Inocibe Inocibe fastigiata, Inocibe Geophilla, Inocibe
Patouillardii, etc. (Centre Hospitalier Regional
Universitaire de Lille, s.d.).
A
síndrome muscarínica instala-se num período de tempo que pode variar entre 15
minutos a 2 horas e pode provocar: perturbações digestivas (dor abdominal,
náuseas, vómitos, diarreia), perturbações cardiovasculares (diminuição da
frequência cardíaca, pressão arterial baixa) e ainda, suores, salivação,
corrimento nasal, olhos lacrimejantes, etc.
(Centre Hospitalier Regional Universitaire de Lille, s.d.).
Os
sintomas da ingestão de cogumelos com muscarina são a produção de suor,
salivação, lacrimejamento, incontinência urinária e fecal, cólicas abdominais,
miose, vómitos, falta de ar e bradicardia. Suores intensos e rubor facial são
os sintomas mais típicos e devem desde o início, levantar suspeitas.
As
siglas SLUDGE (salivation, lacrimation, urination, diarrhea, gastric distress,
and emesis) e DUMBBELS (diarrhea, urination, miosis, bradycardia, bronchorrhea,
emesis, lacrimation, and salivation) são bastante utilizadas para a descrição
de intoxicação com cogumelos que contenham muscarina (Chyka, 2011).
A
maioria dos pacientes com intoxicação devido aos cogumelos que contêm muscarina
pode ser tratada sem medicamentos. Se os pacientes apresentam secreções
brônquicas excessivas ou outros sintomas de excesso colinérgicos (bradicardia),
que são de grande preocupação, a atropina pode diminuir esses sintomas. Se o
paciente se apresenta dentro de 1 hora após a ingestão do cogumelo, é
considerada a administração oral de carvão ativado, no entanto não existe
nenhum estudo que mostre que a administração rotineira de doses múltiplas de
carvão ativado seja útil. O carvão activado é um adsorvente eficaz, inerte, não
tóxico e que se liga irreversivelmente às toxinas e interfere com a sua
absorção, particularmente em compostos de elevado peso molecular. (Chyka, 2011)
Devem-se manter anotações
actualizadas sobre as práticas de produção, colheita e distribuição dos seus
produtos. A documentação dá credibilidade ao produtor e facilita a condução de
um programa de segurança alimentar. Por isso, no que toca aos cogumelos
produtores de amotoxinas, isto deve basear-se em certificações sobre a sua
origem mediante monitorização dos lotes por especialistas micologistas e
inspecções sanitárias.
Apesar de existirem muitas formas
de cogumelos, a maioria dos cogumelos que se conhece apresenta uma morfologia
típica, composta por um chapéu e pé. O chapéu é a parte superior do cogumelo,
que encerra a parte fértil, do mesmo, ou seja, é a estrutura onde se produzem
os esporos. Esta
estrutura está, normalmente, voltada para baixo, para facilitar a libertação e
disseminação dos esporos, quando maduros
(Uevora, 2007).
São
ricos em água (cerca de 30 a 90%, consoante a espécie) e possuem quantidades
importantes de ácido fosfórico (que pode atingir os 40%), vitaminas e pigmentos (Micosylva, 2011).
Devido
à globalização tem-se observado um maior intercâmbio de tradições e culturas
gastronómicas, nomeadamente com outros países europeus como a França e a Itália (Brandão, et al., 2011).
Em Portugal existem bastantes
workshops sobre cogumelos, mas nem todos exploram a vertente da diferenciação
entre os cogumelos comestíveis e os cogumelos tóxicos.
Em 2011 foi realizado um workshop
sobre cogumelos venenosos para amadores e profissionais, no parque das nações
em Lisboa. Este workshop teve como objectivo “dotar os formandos com o
conhecimento necessário a conhecer as mais perigosas espécies de cogumelos” e
conferiu aos formandos um certificado de participação (Quadrante Natural, 2011).
Em 2012 foi realizado um workshop
sobre cogumelos no jardim botânico de Coimbra que tinham como objectivo “ajudar na identificação correta das várias espécies de
cogumelos é um dos objetivos deste 'workshop' que irá sensibilizar as pessoas
para os riscos de apanharem espécies venenosas”
(Boas Noticias, 2012).
Mais
recentemente, no dia 25 de Outubro deste ano, realizou-se um workshop que teve
como titulo: “Workshop Micológico «O Mundo dos Cogumelos»”. Este workshop teve como objectivo: “Compreender
quem são esses misteriosos seres, saber o seu nome e o que fazem é o desejo de
muitos amantes do mundo dos cogumelos, que poderão nesta atividade satisfazer
um pouco da sua curiosidade. Comestíveis e venenosos, progridem par a par,
tornando-se imperioso um olho sagaz para distinguir uma apetitosa refeição dum
desfecho angustiante.” (ICAAM, 2014).
Aproveite-se o desenvolvimento de
tecnologias de informação e comunicação para tornar cada vez mais públicos os
perigos das micotoxinas para a Saúde Pública porque a luz pode surgir de
qualquer lugar (Cambaza, 2013).
Grande proporção de casos em jovens
e adultos, o que poderá indiciar a transmissão da tradição da colheita de
cogumelos a gerações mais jovens. A sazonalidade das intoxicações é algo
consensual na revisão bibliográfica realizada e previsível tendo em conta o
período do ano em que se dá a frutificação dos fungos.16 É evidente a
prevalência de casos na Primavera e no Outono. Realidade já documentada em
vários estudos (Brandão, et al., 2011).
A nível europeu existe um órgão
associado à pesquisa e comunicação de venenos, criado em 1964. Este órgão é o
EAPCCT (European Association of Poisons
Centres and Clinical Toxicologists). A nível nacional existe o Centro de
Informação Antivenenos (CIAV) que
pertence ao ministério da saúde e funciona através de uma linha de atendimento
que se encontra activa 24h por dia.
A
Direção Geral de Agricultura e Desenvolvimento Rural (DGADR), através da Equipa
de Promoção e Desenvolvimento dos Territórios Rurais (EPDTR) em parceria com o
Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) lançou o projecto
"Promover os Recursos Micológicos". Este projeto teve apoio
financeiro através do Fundo Europeu Agrícola de Desenvolvimento Rural
(FEADER). Deste projecto resultou a publicação de dois documentos importantes:
o “Manual de Boas Práticas de Colheita e Consumo de Cogumelos Silvestres” e
“Guia do Colector de Cogumelos”[14]. Ambos os
documentos são de acesso livre ao público que entre no site da Direção Geral de
Agricultura e Desenvolvimento Rural.
Apesar de ambas as publicações serem sobre
cogumelos conhecidos, cuja toxicidade é nula, estas publicações têm um impacto
bastante positivo para a diminuição do risco da ingestão de cogumelos tóxicos.
Existem bastantes colectores de cogumelos em Portugal, cujo único conhecimento
sobre este alimento, baseia-se na experiencia própria ou em conhecimentos
transmitidos por familiares e amigos. Ambas as publicações são bastante claras,
apresentam ilustrações e são de fácil leitura. Além destas características, a
publicação “Guia do Colector de Cogumelos” apresenta ilustrações com cogumelos
tóxicos que podem ser facilmente confundíveis com o cogumelo que se pretende
colher. Desta forma, estas publicações tornam-se numa ferramenta que permite
aos colectores amadores, uma recolha de cogumelos, com segurança e confiança.
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[14] As publicações referidas podem ser acedidas no
seguinte link: http://www.dgadr.mamaot.pt/diversificacao/recursos-micologicos
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