terça-feira, 30 de dezembro de 2014

PERIGOS QUÍMICOS EM COGUMELOS – Amatoxina e Muscarina


O presente trabalho tem como base analisar os perigos químicos, amatoxina e muscarina, presentes em alguns cogumelos, uma vez que o consumo destes, na alimentação, tem vindo a crescer nos últimos anos, ao serem apreciados em muitas dietas europeias e orientais, e pelo seu elevado conteúdo proteico permitindo a sua introdução na dieta das populações de países em desenvolvimento e com alto índice de desnutrição. Como também ao nível das drogas psicotrópicas (Brandão, 2011). 

Ao retorcer vários anos para trás, observa-se que os acidentes tóxicos, decorrentes na humanidade, se restringiam essencialmente, ao contacto ou ingestão com determinados seres vivos e à inalação de gases ou vapores oriundos da actividade eruptiva dos vulcões e dos incêndios (Brandão, 2011).

A este fenómeno dá-se o nome de Micetismo. Intoxicação ou envenenamento causado pela ingestão de cogumelos que contêm ou produzem substâncias que não podem ser decompostas pelos processos digestivos e metabólicos do nosso organismo, e que ao serem absorvidas, causam diarreia, alucinações, insuficiência hepática e renal, e em alguns casos pode provocar a morte (Morgado, 2009). Mas os sintomas variam muito em função da quantidade e espécie ingerida (Polichetti, 2007).

Existem quatro categorias de toxinas nos cogumelos:
·         Veneno protoplasmático - causa a destruição generalizada de células, seguida de falência dos órgãos;
·         Neurotoxinas - causam sintomas neurológicos como profusa transpiração, coma, convulsões, alucinações, excitação e depressão;
·         Irritantes gastrointestinais - produzem rapidamente náusea passageira, vômitos, dor abdominal e diarreia;
·         Toxina tipo Dissulfiram (dissulfato de tetraetiltiuram) - só são tóxicos aquando da ingestão de álcool nas 72 horas após ingestão de cogumelos.

Praticamente todos ou quase todos os cogumelos podem ser agrupados em uma das categorias já citadas, dos quais Amanita Phalloides, Conocybe Filaris, Amanita Verna, Amanita Virosa, Galerina Marginata, Inocibe e Litocybe, enquadrados nos venenos plasmáticos e neurotóxicos (Viseufunghi - Sol, 2007).

Os cogumelos são consumidos como uma iguaria, e particularmente pelo seu aroma e texturas específicas. Para além disso, são ricos em vitaminas B1 e C, riboflavina, niacina e biotina, em aminoácidos essenciais e em sais minerais, nomeadamente, sódio, potássio e fósforo. Em termos comparativos, o valor nutritivo dos cogumelos pode ser equiparável ao do leite e da carne, sendo significativamente mais nutritivo que a maioria dos legumes apesar de partilhar os benefícios dos frutos e legumes pelo baixo teor de calorias e não têm colesterol (Micosylva, 2011).

Em Portugal, existe a habitual tradição de apanhar cogumelos, sobretudo na região de Miranda do Douro e no Baixo Alentejo. Sendo posteriormente, consumidos assados com um pouco de sal, no convívio das tabernas ou em casa e nos restaurantes, cozinhados na feijoada, mexidos com ovos ou fritos com carne do porco (Micosylva, 2011). Mas grande parte das vezes, este acto resulta em de intoxicações agudas, que consequentemente podem levar à morte, devido a insipiência, confusão no acto da colheita ou através de métodos populares.  Contudo, em Portugal, a verdadeira dimensão deste problema é desconhecida devido à escassez de literatura científica, muitas vezes desactualizada e desajustada (Brandão, et al., 2011).

Todavia, ao contrário de Portugal, no resto da Europa, encontram-se em maior número dados estatísticos relativos a intoxicação por cogumelos, tanto a nível alimentar como psicotrópico.



As amatoxinas existem em várias espécies de cogumelos, como a Amanita Phalloides, Amanita Virosa, Amanita Verna, Galerina Marginata, pertencentes ao grupo octapeptídeos bícíclicos formados por pelo menos 9 compostos diferentes, ou seja, as suas toxinas não são destruídos mesmo que os cogumelos sejam cozinhados (Leandro, s.d.). Devido à sua elevada toxicidade são responsáveis por cerca de 90% das intoxicações. Uma intoxicação por amatoxinas apresenta uma taxa de mortalidade de 10% a 30% (Freitas, 2013).

Das 6000 espécies de cogumelos existentes na Europa apenas 180 são tóxicas, existindo muito poucas que contenham uma toxina cuja ingestão seja fatal para o ser humano, como é o caso da Amanita Phalloides (cicuta verde) (Brandão, 2011).

A espécie é originária da Europa, mas pode também ser encontrada nas Américas, Austrália e Ásia. A Amanita Phalloides habita florestas, normalmente junto de carvalhos, nogueiras e/ou coníferas (Wikipédia, 2014). É um cogumelo micorrízico e o seu período de frutificação dá-se no Outono.

Inicialmente começa por possuir um chapéu ovoide e quando tinge a idade adulta passa a convexo. Cutícula facilmente separável e viscosa em tempo húmido e luzidia em tempo seco e de textura fibrosa. De cor verde-amarelado não uniforme, por vezes mais ténue ou mais bronzeado.
A toxicidade tem origem em três tipos de toxinas presentes nesta espécie: falotoxinas, virotoxinas e amatoxinas, em particular a α-amanitina, que é responsável pela maioria dos danos provocados. Calcula-se que apenas 50g de Amanita Phalloides sejam suficientes para provocar a morte de um ser humano adulto, e que a espécie seja responsável por 90% dos envenenamentos por cogumelos anuais (Freitas, 2013).

As Amanitas são seres pertencentes ao reino Fungi, que não apresentam actividade fotossintética, obtendo os seus nutrientes através de matéria orgânica em decomposição.

A maioria das mortes resulta das parecenças notáveis da Amanita Phalloides com o Volvariella Volvacea, um cogumelo inofensivo, comestível e muito saboroso que é apreciado como petisco gastronómico (Wikipédia, 2014).


A espécie é originária do noroeste do Pacífico. Amplamente disseminado por relvados e lascas de madeira. Possui uma tampa cônica acastanhada e o seu caule é de 2mm de espessura e 1-6cm de comprimento. Costumam ser muitas vezes, confundido com Psilocybe cyanescens e Psilocybe subaeruginosa (Wikipédia, 2013).


Fungo encontrado na Europa, de chapéu hemisférico quando ainda jovem e convexo a plano, e deprimido na maturidade, a margem é direita, lisa, não estriada, regular e por vezes ligeiramente franjada e rugosa na fase adulto. A cutícula é separável, lisa e viscosa em tempo húmido e acetinada em tempo. Emana um forte cheiro a açafrão. Aparece em solos calcários e florestas de carvalho, incluindo coníferas. Pode ser confundido à primeira vista com espécies comestíveis como Agaricus Arvensis ou Psalliotas, Bispora Agaricus, Agaricus Campestres e Agaricus Silvícola (Todacultura, s.d.).

Tanto o Amanita Verna como o Virosa são tão perigosos como Phalloides, embora menos abundante. É um cogumelo micorrízico e o seu período de frutificação dá-se na Primavera.


A Amanita Virosa, vulgarmente conhecido como “anjo destruidor europeu”, é um fungo venenoso letal. Encontrado em bosques mistos, de solo musgosos e perto de várias árvores decíduas e coníferas (Wikipédia, 2014). Os espécimes prematuros destas espécies assemelham-se a várias espécies comestíveis, aumentando o risco de envenenamento acidental. Juntamente com outros membros, do mesmo género, é um dos cogumelos mais venenosos conhecidos. A sua principal toxina é a α-amanitina, causadora de danos no fígado e rins.

Possui inicialmente um chapéu ovoide, e em adulto aplanado com a margem lisa que se torna progressivamente mais involuta com a idade, frequentemente assimétrico, de forma irregular e pouco carnudo. Detém odor fétido. De cutícula separável e viscosa em tempo húmido e acetinada em tempo seco. De cor Branco-leitoso a branco-marfim, com tons ocráceos na zona central.

Conhecem-se apenas alguns antídotos, um dos quais um composto obtido do cardo-leitoso (Silybum spp.) (Wikipédia, 2014).


A espécie encontra-se em florestas de coníferas e folhosas da América do Norte, Europa, Ásia, Japão e também Austrália. De cor acastanhada, superfície viscosa e aparência oleosa, pode ter até 6cm de comprimento e 9mm de largura. Possuidor de um odor suave semelhante ao de esmagar a carne entre os dedos (Mushroomexpert, 2004).

Um dado importante é que não são apenas as substâncias tóxicas produzidas pelos próprios cogumelos que podem ser prejudiciais, também as substâncias do meio ambiente que neles se acumulam, como os metais pesados entre os quais o cádmio, o chumbo e mercúrio. Além disso a radioactividade também contribui para a toxicidade dos cogumelos como provaram as análises efectuadas após o acidente nuclear de Chernobyl em 1986 em que encontraram altos teores de iodo e césio (Brandão, 2011).

A amatoxina é responsável por lesões hepáticas e renais e efeitos encefalopáticos. O mecanismo de acção é explicado pela inibição da RNA-polimeraseII, interferindo assim, na transcrição do RNA e DNA, afectando a síntese proteica de vários tecidos, principalmente do fígado, rins, cérebro, pâncreas e testículos. Sendo rapidamente absorvida ao longo do intestino, 60% a toxina é excretada na bíle, seguindo para a circulação enterohepática (Rodrigues, 2013). A sua acção manifesta-se em média 12h após a sua ingestão, podendo no entanto o período de latência chegar às 24h (Freitas, 2013).

A dose letal para um adulto é de 0,1mg/kg, logo a ingestão de 20 a 25g pode ser fatal uma vez que implica o consumo de 5 a 8mg de amatoxina (Freitas, 2013).

Noventa porcento dos casos de Micetismo no Mundo são causados pelo cogumelo Amanita Phalloides. Mas esta intoxicação de prognóstico reservado, em menores de 10 anos, atingiu cerca de 51% (Silva, 2014).

Todos os anos quando se dá a frutificação de cogumelos, no Hospital do Espírito Santo, em Évora, surgem novos casos de intoxicação por cogumelos venenosos, grande parte dos casos, prendem-se com a apanha de Amanita Ponderosa, conhecida no Alentejo como “silarca”, por confusão desta, com a espécie mortal Amanita Verna (Oliveira, 2009). O mesmo se passa no Hospital Geral de Santo António (Rodrigues, 2013).

A presença de imigrantes marcadamente micófilos, oriundos dos países eslavos e de língua romena, cujos hábitos de consumo se alargam a um número de espécies bastante elevado, coadjuvam para o aumento destes surtos (Oliveira, 2009).

Em 1912 existe uma alusão a três casos de mortes por ingestão de Galerina Autumnalis, e desde então que têm surgido novas intoxicações com cogumelos do gênero, incluindo Galerina Marginata, realidade nada incomum na Catalunha (Carrasco, 1984).

Num estudo com 205 casos de intoxicação por amatoxinas tratados na Europa Central no período de 1971 a 1980, a mortalidade global rondou os 22.4%. Em França, de 45 pacientes tratados nos anos de 1984 a 1989, a mortalidade global foi de 17.8% e, em crianças com idade inferior a 10 anos, de 33.3%. Uma taxa de mortalidade global muito superior (40%) foi observada, num estudo búlgaro, que incluiu 25 pacientes tratados, num período entre 1991-1998 (Leite, 2011).

Nos Estados Unidos, em 1998, a Associação Americana de controlo de envenenamentos reconheceu 9839 exposições a toxinas de cogumelos, sendo que 50% dos casos ocorreram na faixa etária pediátrica (Silva, 2014).

Entre 1990 e 2008 foram analisados todos os processos clínicos de casos internados em dez Unidades Hospitalares, notificados com o código 988.1 do GDH (intoxicação aguda por cogumelos). Estas unidades Hospitalares incluíam, as três unidades que em Portugal se realizam transplantem hepáticos. Identificando-se 93 casos de intoxicação aguda por cogumelos, com um pico superior entre Setembro e Dezembro e, um segundo, na Primavera (Brandão, et al., 2011).

2.5.    Alimentos envolvidos                        
Cogumelos silvestres colhidos por pessoas não especialistas (cogumelos crus, frescos, grelhados, em conservas caseiras, cozidos em molho de tomate, e cogumelos branqueados e congelados em casa) (Venâncio, 2003).

2.6.   Síndrome Ciclopeptídico
O começo dos sintomas iniciam-se partir de 6 a 24 horas (geralmente 12 horas). E divide-se em três fases (Brandão, et al., 2011):
Fase 1 – Toxicidade gastrointestinal: náuseas, vómitos, cólicas abdominais e diarreia aquosa.
Fase 2 – Melhoria clínica temporária. Devido em parte à rehidratação por via oral. No entanto, é nesta fase que a lesão hepática é mais notória.
Fase 3 – Falência hepática, renal e, por vezes, pancreática. Esta fase do síndrome hepatotóxico pode ser letal, logo na primeira semana após a ingestão dos cogumelos.

2.7.   Sintomas
A intoxicação por amatoxinas (grupo de octapeptídeos biciclícos) causa necrose celular, especialmente no fígado e nos rins, conduzindo à morte por falência hepática e insuficiência renal aguda (Instituto nacional de medicina legal e ciências forenses, 2014), gastroenterite tardia – dores abdominais intensas, náuseas, vómitos, e diarreia profusa, resultante do efeito da amanitina nas células epiteliais gastrointestinais (Rodrigues, 2013). Hipoglicemia e elevado nível de amónia na urina.

2.8.   Tratamento
Aspiração nasogástrica e administração de carvão activado, nas intoxicações por cogumelo detectadas ainda recentemente (60-100g). Fornecer fluídos intravenosos para repor as perdas consequentes dos vómitos e diarreia. Administra glicose e proceder à correcção de coagulopatia (Brandão, et al., 2011). Numa fase mais avançada do micetismo ministrar medidas intensivas de suporte para a insuficiência hepática (transplante de fígado se houver necessidade) (Rodrigues, 2013).



Tal como já foi referido na introdução, existem quatro grupos de toxinas presentes em cogumelos. A toxina muscarina é colocada no grupo das neurotoxinas que contêm compostos que causam sintomas neurológicos, como suores, coma, convulsões, alucinações, excitação, depressão, etc. (FDA, 2012).

A ingestão das espécies Inocibe ou Clitocybe, resulta numa doença caracterizada principalmente por suores intensos. Este efeito é causado pela presença de níveis elevados (3% a 4%) de muscarina. Envenenamento por ingestão de cogumelos com muscarina é caracterizado por um aumento da salivação, transpiração e lacrimação, com aparecimento de sintomas entre 15 a 30 minutos após a ingestão do cogumelo. Com doses elevadas, estes sintomas podem ser seguidos por dor abdominal, náuseas, diarreia, visão embaçada e dificuldade em respirar. A intoxicação geralmente desaparece dentro de 2 horas. As mortes são raras, mas podem resultar em insuficiência cardíaca ou respiratória, em casos graves. (FDA, 2012)
A muscurina foi inicialmente identificada e extraida do cogumelo Amanita Muscaria em 1869, no entanto veio-se a descobrir que a quantidade desta toxina, neste cogumelo, não era significante (> 0,002 %) . Mais tarde a muscurina foi indentificada noutras espécies fungicas como o Inocibe e o Clitocibe que se estima conterem cerca de 0,1 a 0,3 % de muscarina.

As espécies do género Inocibe são cogumelos de pequenas e médias dimensões, caracterizados por serem cabeças fibrosas, visto que o seu chapéu é composto por hifas dispostas radialmente que causam a divisão do chapéu numa forma radial. Um grande número de espécies Inocibe contém níveis significativos de muscarina.

Muitas espécies do género Inocibe como Inocibe Fastigiata e Inocibe Geophylla contêm muscarina, no enquanto, a espécie Inocibe Erubescens é a única conhecida por ter causado mortes em humanos.

Entre o género Inocibe destaca-se o Inocibe-violeta, Inocybe Geophylla, que pode ser encontrado no Alentejo. Este Inocibe tem o chapéu liso, lilás-violáceo, com 1-4cm de diâmetro. O pé é esbranquiçado, com 2-6cm de comprimento. Encontra-se em azinhais, sobreirais e pinhais e frutifica no Outono. (Naturdata, 2012)

3.1.2.  Clitocibe
Além do Inocibe, o Clitocibe é outro género de cogumelos tóxicos que apresentam a toxina muscarina.

O cogumelo do género Clitocibe é constituído por centenas de diferentes espécies, poucas são comestíveis e algumas são tóxicas pois apresentam muscarina. Os cogumelos deste género são caracterizados por apresentar chapéus brancos, cremes ou até lilases. Este género de cogumelos é maioritariamente saprófita ou seja, alimentam-se da matéria orgânica dos solos.

Torna-se bastante difícil distinguir as diferentes espécies de Clitocibe. Desta forma é essencial a sua análise ao microscópio antes da sua ingestão.

O consumo de duas espécies, Clitocybe acromelalga do Japão e Clitocybe amoenolens da França, levou a vários casos de eritromelalgia ou Doença de Mitchell que durou de 8 dias a 5 meses. A eritromelalgia é uma doença vascular que causa crises repetidas de rubor, edema, dor e hipertermia sobretudo nas extremidades dos membros inferiores.
Entre o género Clitocibe destacam-se duas espécies em particular, o Clitocybe dealbata e Clitocybe rivolosa, que contêm muscarina em quantidades mortais.

O clitocibe dealbata apresenta um tamanho pequeno, o seu chapéu é convexo e deprimido no centro, com uma variação de cores entre o cinzento, o branco ou castanho claro com creme e manchas rosa. Esta espécie apresenta um aroma suave a farinha, ervas aromáticas. O seu sabor é doce. Esta espécie pertence ao grupo dos Clitocibes tóxicos brancos e é por vezes confundida com a espécie Clitopilus prunulus, que é comestível, e com a espécie Clitocibe. Fimiphila, igualmente comestível (Fichas Micológicas, 2012).

A espécie Clitocibe rivolosa caracteriza-se por apresentar cor branca, com um chapéu em forma de funil com 3-4 cm de diâmetro. O estipe fibroso é de até 4 cm de altura e não tem anel. Encontra-se em solo arenosos e em bordas de caminhos ou estradas. Esta espécie é por vezes confundida com o Clitopilus prunulus  e o Pleurotus eryngii (cogumelo ostra), ambos comestiveis  (Fichas Micológicas, 2012).

Muscarina e a acetilcolina são semelhantes estruturalmente e têm efeitos clínicos comparáveis nos receptores muscarínicos. A muscarina provoca efeitos sobre o sistema nervoso periférico usando a acetilcolina (mensageiro químico). A muscarina não causa efeitos no sistema nervoso central pois esta não migra para o cérebro. A muscarina liga-se aos receptores de acetilcolina. A Muscarina permanece mais tempo no receptor. Os receptores com maior afinidade pela muscarina são os receptores das glândulas parassimpáticas e dos músculos lisos (Goldfrank, 2004).

A muscarina não é afectada pelo calor, não é afectada pelos ácidos digestivos e é eliminada na urina.

A dose letal de um adulto é de 180-300 mg de muscarina e a dose letal da espécie fastigiata Inocibe é de 81-136 g de cogumelos secos (Centre Hospitalier Regional Universitaire de Lille, s.d.).

Foram registadas uma série de 248 incidências de ingestão de cogumelos com muscarina que resultaram em intoxicações no sul da França, entre 1973 e 1998. As 248 inicências foram analisadas em 483 pacientes. A média do início dos sintomas foi de 2 horas. Os sintomas mais frequentes foram transpiração (96% dos pacientes), vómitos (70%), diarreia (62%), hipotensão (36%), dor abdominal (32%), visão turva (22%), bradicardia (20%), rinorreia (6%) e lacrimação (6%). Do total dos pacientes, 58% foram tratados no hospital, e os tratamentos variaram entre a utilização de atropina (24% dos 483 pacientes), carvão activado (21%) e lavagem ao estomago (6%). O tempo médio de recuperação foi de 13 horas sem modificação para os doentes tratados com atropina ou carvão ativado.

Entre 1999 e 2009 houve 35 mortes registadas no AAPCC (American Association of Poison Control Centers) por ingestão de cogumelos, mas nenhuma destas mortes foi atribuída à muscarina.
Para as 22 exposições à muscarina durante 2009, relatadas à AAPCC, 63% dos casos não sofreram efeitos ou sofreram efeitos menores, 14% sofreram efeitos moderados e 0% sofreram efeitos graves.

Em 2009, 5902 casos de ingestão de cogumelos foram notificados ao (AAPCC). Do total de casos, 77% destes envolveram cogumelos de natureza desconhecida. Foram contabilizados 22 casos de ingestão de cogumelos contendo muscarina, dos quais um caso envolveu uma criança com menos de 6 anos. Cerca de 18% de todos os casos que envolveram muscarina, resultaram de ingestões intencionais e 64% destes casos foram tratados em unidades de saúde. Em 27 anos de recolha de dados pelo AAPCC, nenhuma morte de cogumelos contendo muscarina foi registada (Chyka, 2011).

A maioria dos casos registados da ingestão de cogumelos com muscarina resulta da ingestão de cogumelos secos, apesar de igualmente existirem casos de intoxicações através da ingestão de cogumelos frescos e congelados.

3.6.   Síndrome muscarínica
A síndrome muscarínica é o resultado da acção da muscarina. A muscarina está presente numa quinzena de clitocybes: Clitocybe branco de cério (Clitocybe cerussata), Clitocybe branco-marfim/branco blanchi (C. dealbata) e em cerca de quarenta inocibes: Inocibe Inocibe fastigiata, Inocibe Geophilla, Inocibe Patouillardii, etc. (Centre Hospitalier Regional Universitaire de Lille, s.d.).

A síndrome muscarínica instala-se num período de tempo que pode variar entre 15 minutos a 2 horas e pode provocar: perturbações digestivas (dor abdominal, náuseas, vómitos, diarreia), perturbações cardiovasculares (diminuição da frequência cardíaca, pressão arterial baixa) e ainda, suores, salivação, corrimento nasal, olhos lacrimejantes, etc. (Centre Hospitalier Regional Universitaire de Lille, s.d.).

3.7.   Sintomas
Os sintomas da ingestão de cogumelos com muscarina são a produção de suor, salivação, lacrimejamento, incontinência urinária e fecal, cólicas abdominais, miose, vómitos, falta de ar e bradicardia. Suores intensos e rubor facial são os sintomas mais típicos e devem desde o início, levantar suspeitas.

As siglas SLUDGE (salivation, lacrimation, urination, diarrhea, gastric distress, and emesis) e DUMBBELS (diarrhea, urination, miosis, bradycardia, bronchorrhea, emesis, lacrimation, and salivation) são bastante utilizadas para a descrição de intoxicação com cogumelos que contenham muscarina (Chyka, 2011).

3.8.   Tratamento
A maioria dos pacientes com intoxicação devido aos cogumelos que contêm muscarina pode ser tratada sem medicamentos. Se os pacientes apresentam secreções brônquicas excessivas ou outros sintomas de excesso colinérgicos (bradicardia), que são de grande preocupação, a atropina pode diminuir esses sintomas. Se o paciente se apresenta dentro de 1 hora após a ingestão do cogumelo, é considerada a administração oral de carvão ativado, no entanto não existe nenhum estudo que mostre que a administração rotineira de doses múltiplas de carvão ativado seja útil. O carvão activado é um adsorvente eficaz, inerte, não tóxico e que se liga irreversivelmente às toxinas e interfere com a sua absorção, particularmente em compostos de elevado peso molecular. (Chyka, 2011)


Devem-se manter anotações actualizadas sobre as práticas de produção, colheita e distribuição dos seus produtos. A documentação dá credibilidade ao produtor e facilita a condução de um programa de segurança alimentar. Por isso, no que toca aos cogumelos produtores de amotoxinas, isto deve basear-se em certificações sobre a sua origem mediante monitorização dos lotes por especialistas micologistas e inspecções sanitárias.


Apesar de existirem muitas formas de cogumelos, a maioria dos cogumelos que se conhece apresenta uma morfologia típica, composta por um chapéu e pé. O chapéu é a parte superior do cogumelo, que encerra a parte fértil, do mesmo, ou seja, é a estrutura onde se produzem os esporos. Esta estrutura está, normalmente, voltada para baixo, para facilitar a libertação e disseminação dos esporos, quando maduros (Uevora, 2007).

São ricos em água (cerca de 30 a 90%, consoante a espécie) e possuem quantidades importantes de ácido fosfórico (que pode atingir os 40%), vitaminas e pigmentos (Micosylva, 2011).

Devido à globalização tem-se observado um maior intercâmbio de tradições e culturas gastronómicas, nomeadamente com outros países europeus como a França e a Itália (Brandão, et al., 2011).



Em Portugal existem bastantes workshops sobre cogumelos, mas nem todos exploram a vertente da diferenciação entre os cogumelos comestíveis e os cogumelos tóxicos.

Em 2011 foi realizado um workshop sobre cogumelos venenosos para amadores e profissionais, no parque das nações em Lisboa. Este workshop teve como objectivo “dotar os formandos com o conhecimento necessário a conhecer as mais perigosas espécies de cogumelos” e conferiu aos formandos um certificado de participação (Quadrante Natural, 2011).

Em 2012 foi realizado um workshop sobre cogumelos no jardim botânico de Coimbra que tinham como objectivo “ajudar na identificação correta das várias espécies de cogumelos é um dos objetivos deste 'workshop' que irá sensibilizar as pessoas para os riscos de apanharem espécies venenosas” (Boas Noticias, 2012).

Mais recentemente, no dia 25 de Outubro deste ano, realizou-se um workshop que teve como titulo: “Workshop Micológico «O Mundo dos Cogumelos»”.  Este workshop teve como objectivo: “Compreender quem são esses misteriosos seres, saber o seu nome e o que fazem é o desejo de muitos amantes do mundo dos cogumelos, que poderão nesta atividade satisfazer um pouco da sua curiosidade. Comestíveis e venenosos, progridem par a par, tornando-se imperioso um olho sagaz para distinguir uma apetitosa refeição dum desfecho angustiante.”  (ICAAM, 2014).




Aproveite-se o desenvolvimento de tecnologias de informação e comunicação para tornar cada vez mais públicos os perigos das micotoxinas para a Saúde Pública porque a luz pode surgir de qualquer lugar (Cambaza, 2013).

Grande proporção de casos em jovens e adultos, o que poderá indiciar a transmissão da tradição da colheita de cogumelos a gerações mais jovens. A sazonalidade das intoxicações é algo consensual na revisão bibliográfica realizada e previsível tendo em conta o período do ano em que se dá a frutificação dos fungos.16 É evidente a prevalência de casos na Primavera e no Outono. Realidade já documentada em vários estudos (Brandão, et al., 2011).

A nível europeu existe um órgão associado à pesquisa e comunicação de venenos, criado em 1964. Este órgão é o EAPCCT (European Association of Poisons Centres and Clinical Toxicologists). A nível nacional existe o Centro de Informação Antivenenos (CIAV) que pertence ao ministério da saúde e funciona através de uma linha de atendimento que se encontra activa 24h por dia.

A Direção Geral de Agricultura e Desenvolvimento Rural (DGADR), através da Equipa de Promoção e Desenvolvimento dos Territórios Rurais (EPDTR) em parceria com o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) lançou o projecto "Promover os Recursos Micológicos". Este projeto teve apoio financeiro através do Fundo Europeu Agrícola de Desenvolvimento Rural (FEADER). Deste projecto resultou a publicação de dois documentos importantes: o “Manual de Boas Práticas de Colheita e Consumo de Cogumelos Silvestres” e “Guia do Colector de Cogumelos”[14]. Ambos os documentos são de acesso livre ao público que entre no site da Direção Geral de Agricultura e Desenvolvimento Rural.

Apesar de ambas as publicações serem sobre cogumelos conhecidos, cuja toxicidade é nula, estas publicações têm um impacto bastante positivo para a diminuição do risco da ingestão de cogumelos tóxicos. Existem bastantes colectores de cogumelos em Portugal, cujo único conhecimento sobre este alimento, baseia-se na experiencia própria ou em conhecimentos transmitidos por familiares e amigos. Ambas as publicações são bastante claras, apresentam ilustrações e são de fácil leitura. Além destas características, a publicação “Guia do Colector de Cogumelos” apresenta ilustrações com cogumelos tóxicos que podem ser facilmente confundíveis com o cogumelo que se pretende colher. Desta forma, estas publicações tornam-se numa ferramenta que permite aos colectores amadores, uma recolha de cogumelos, com segurança e confiança.













8-   Bibliografia


Boas Noticias, 2012. Coimbra: 'Workshop' de cogumelos no Jardim Botânico. [Online]
Disponível em: http://boasnoticias.pt/noticias_Coimbra-Workshop-de-cogumelos-no-Jardim-Bot%C3%A2nico_13603.html?page=0
Brandão, J. L. d. C. P., 2011. Intoxicação por Cogumelos no Contexto da Emergência Médica. Tese (Mestrado em Medicina de Emergência) – Faculdade de Medicina, Universidade do Porto. pp. 1-106.
Brandão, J. L. et al., 2011. Intoxicação por Cogumelos em Portugal. Acta Med Port, XXIV(2), pp. 269-278.
Cambaza, E., 2013. As novas estrelas. [Online]
Disponível em: http://accademos.com/alimentos/as-novas-estrelas/
[Acesso em 01 12 2014].
Carrasco, J. P. e., 1984. Intoxicacion de tipo ciclopeptidico (faloidiano) producida por pequeñas lepiotas. Butll Soc Amics Hist Cienc Farm Catalana , Edição 8, pp. 33-37.
Centre Hospitalier Regional Universitaire de Lille, s.d. [Online]
Disponível em: http://cap.chru-lille.fr/GP/magazines/96481.html
Chyka, P. A., 2011. Muscarine Mushroom Toxicity. [Online]
Disponível em: http://misc.medscape.com/pi/iphone/medscapeapp/html/A1011799-business.html
Didonfruitsl, s.d. Intoxicação amatoxin. [Online]
Disponível em: http://www.didonfruitsl.es/las-setas/intoxicaciones/intoxicaci%C3%B3n-por-amatoxina/
[Acesso em 04 12 2014].
Epralima, s.d. Custos e implicações das falhas na HSA. [Online]
Disponível em: http://www.epralima.com/iqa/index2.php?option=com_docman&task=doc_view&gid=69&Itemid=99
[Acesso em 05 12 2014].
FDA, 2012. Food and Drugs Administration. [Online]
Disponível em: http://www.fda.gov/downloads/Food/FoodborneIllnessContaminants/UCM297627.pdf
Fichas Micológicas, 2012. Fichas Micológicas. [Online]
Disponível em: http://www.fichasmicologicas.com/?micos=1&alf=C&art=273
Freitas, A. C. P. d. M., 2013. Cogumelos e os seus efeitos terapêuticos. Tese (Mestrado em Ciências Farmacêuticas) – Faculdade de Ciências da Saúde, Universidade Fernando Pessoa., pp. 1-53.
Goldfrank, L. R., 2004. Mushrooms. L. NATURAL TOXINS AND ENVENOMATIONS.
ICAAM, 2014. Workshop Micológico "O Mundo dos Cogumelos". [Online]
Disponível em: http://www.icaam.uevora.pt/Noticias-e-Informacoes/Agenda/Workshop-Micologico-O-Mundo-dos-Cogumelos2
Instituto nacional de medicina legal e ciências forenses, 2014. Programa resumos. Coimbra, Universidade de Coimbra.
Leandro, J., s.d. Cogumelos Tóxicos. [Online]
Disponível em: http://www.ibb.unesp.br/Home/Eventos1415/CursodeExtensaoUniversitariaToxicologiaAplicada/materialdisponivel/aula-cogumelos-toxicos-extensao.pdf
[Acesso em 05 12 2014].
Leite, M. S. C. e. F. M., 2011. Desenvolvimento e Optimização de uma Metodologia Analítica para a Determinação de α-e β-Amanitina em urina humana por LC-MS/MS. Dissertação (Mestrado em química forense) – Departamento de Química, Universidade de Coimbra, pp. 1-136.
Micosylva, 2011. Manual para a gestão dos recursos micológicos silvestres do Baixo Alentejo. Issue ADPM Associação de Defesa do Património de Mértola, pp. 1-71.
Morgado, L. M. D. N., 2009. Estudo de Casos de Micetismo e Caracterização da Relação entre uma População Selecionada do Alentejo Central e os Macrofungos. Tese (Mestrado em gestão e conservação de recursos naturais) – Instituto superior de agronomia, Universidade de Évora, pp. 1-61.
Moura, P. L. D. C., 2008. Determinação de elementos essenciais e tóxicos em cogumelos comestíveis por análise por ativação com nêutrons. Dissertação (Mestrado em aplicações na área de Tecnologia Nuclear) – Área de Tecnologia Nuclear, Autarquia Associada à Universidade de São Paulo, pp. 1-117.
Mushroomexpert, 2004. Galerina marginata ("Galerina autumnalis"). [Online]
Disponível em: http://www.mushroomexpert.com/galerina_marginata.html
[Acesso em 06 12 2014].
Naturdata, 2012. Inocybe geophylla. [Online]
Disponível em: http://naturdata.com/Inocybe-geophylla-38299.htm                         [Acesso em 14 12 2014].
Oliveira, P. d., 2009. Intoxicação por ingestão de cogumelos. Revista da sociedade portuguesa de medicina interna, XVI(4), pp. 1-7.
Polichetti, Simone – Intoxicação em animais selvagens: 1-69. Itatiba: UCB, 2007.
Quadrante Natural, 2011. Workshop: Cogumelos Venenosos. [Online]
Disponível em: http://www.quadrante-natural.pt/Eventos/Workshop%20-%20Cogumelos%20venenosos.htm                                                                             [Acesso em 06 12 2014].
Rodrigues, C. i. A. P. A., 2013. Estudo Retrospetivo sobre intoxicação por cogumelos Amanita Palloides no Hospital Geral de Santo António nos últimos 20 anos. Tese (Mestrado integrado em Medicina) – Instituto de Ciências Biomédicas de Abel Salazar, Universidade do Porto. pp. 1-24.
Saiba quais os cogumelos comestíveis e os venenosos. 2012. [Video] Direcção: Querida Júlia. Lisboa: SIC.
Silva, J. R. B. e. L. R., 2014. Intoxicações Alimentares. [Online]
Disponível em: http://www.medicina.ufba.br/educacao_medica/graduacao/dep_pediatria/disc_pediatria/disc_prev_social/roteiros/diarreia/intoxicacoes.pdf
[Acesso em 09 12 2014].
Todacultura, s.d. Amanita verna. [Online]
Disponível em: http://www.todacultura.com/micologia/amanitaverna.htm
[Acesso em 07 12 2014].
Uevora, 2007. Vem conhecer os cogumelos uma riqueza do Alentejo. [Online]
Disponível em: http://info.uevora.pt/cogumelo/index.php?option=com_content&task=view&id=22&Itemid=1
[Acesso em 09 12 2014].
Uninet, s.d. Capítulo 10. 11. Intoxicación por plantas y setas. [Online]
Disponível em: http://tratado.uninet.edu/c101102.html
[Acesso em 06 12 2014].
Venâncio, P. a. B. e. A., 2003. Os Perigos para a Segurança Alimentarno no Processamento de Alimentos. FORVISÃO - CONSULTORIA EM FORMAÇÃO INTEGRADA, LDA, Edição 1, pp. 1-109.
Viseufunghi - Sol, 2007. Toxinas dos Cogumelos. [Online]
Disponível em: http://comunidade.sol.pt/blogs/pmcat/archive/2007/11/27/Toxinas-dos-Cogumelos.aspx
[Acedido em 01 12 2014]
Wikipédia, 2013. Conocybe filaris. [Online]
Disponível em: http://en.wikipedia.org/wiki/Conocybe_filaris
[Acesso em 05 12 2014].
Wikipédia, 2014. Amanita phalloides. [Online]
Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Amanita_phalloides
[Acesso em 05 12 2014].
Wikipédia, 2014. Amanita virosa. [Online]
Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Amanita_virosa
[Acesso em 06 12 2014].







[14] As publicações referidas podem ser acedidas no seguinte link: http://www.dgadr.mamaot.pt/diversificacao/recursos-micologicos

Sem comentários:

Enviar um comentário