sábado, 26 de setembro de 2015

SQHA - Perigos e Riscos relacionados com o sushi/sashimi para a Saúde

OBJECTIVO

Este trabalho tem como objectivo analisar os perigos e riscos associados ao sushi e sashimi, que utilizam como ingredientes centrais o pescado cru, o arroz e as algas. Uma vez que, ao longo dos anos, tem-se observado que os estabelecimentos de restauração têm optado por incluir estes dois elementos orientais nas suas ementadas e que ambas as preparações estão associadas a toxinfecções alimentares devido a falta de segurança alimentar adequada, torna-se necessário compreender os riscos e perigos de forma a eliminá-los ou a reduzir o seu impacto. 

INTRODUÇÃO
A culinária japonesa é constituída por alimentos frescos e naturais principalmente peixes e vegetais. O consumo de sushi e sashimi tem aumentado nos últimos anos, levando as autoridades sanitárias, bem como os pesquisadores, a reflectir sobre essa prática, uma vez que existe um número significante de agentes zoonóticos nos diferentes ecossistemas aquáticos (Silva & Souza, 2003).
Todos os alimentos apresentam-se naturalmente contaminados pelos diversos tipos de microrganismos, por isso, a grande preocupação passa por impedir que estes sobrevivam e se multipliquem comprometendo a qualidade do alimento e a saúde do consumidor (Baião, 2011). Entre os riscos relacionados com o consumo de alimentos contaminados, encontram-se as TIAS (toxinfecções alimentares) e as DTVAS (doenças transmitidas por via alimentar), que constituem um problema em ascensão. Estas doenças preocupam as autoridades tanto dos países desenvolvidos como dos países em desenvolvimento porque todas as pessoas estão expostas aos riscos que daqui advém, mas os indivíduos mal nutridos, imunodeficientes, grávidas, crianças e idosos estão entre os mais susceptíveis (Martins, 2006).
Os riscos de origem alimentar ocorrem quando um indivíduo contrai uma doença decorrente de alimentos contaminados com agentes que entram no organismo e podem ser de origem infecciosa ou tóxica. Além da contaminação natural do pescado, o sushi e sashimi, são preparados manualmente. Assim, o contacto directo do alimento com as mãos pode levar ao aumento da incidência de patogénicos como o Staphylococcus aureus.
Segundo Silva Jr. (2001), preparações muito manipuladas são consideradas de alto risco, especialmente quando elaboradas por pessoas que não possuam formação adequada. Além disso, preparações à base de pescados crus já oferecem risco maior à saúde pelo facto de não serem submetidos a tratamentos bactericidas.

O peixe possui um elevado nível proteico, fácil digestibilidade, baixa taxa de gordura e ainda uma presença benéfica de ácidos gordos polinsaturados ómega-3, no entanto, o peixe pode tornar-se um risco para o consumidor se não forem respeitados alguns cuidados com a manipulação, conservação e confecção (Jay 2000).
Desta forma, percebe-se que, apesar das suas inúmeras qualidades, o peixe é bastante susceptível à deterioração microbiana devido à sua elevada actividade de água, ao teor de gorduras facilmente oxidáveis e ao pH próximo da neutralidade (6,6-6,8), sendo estes alguns dos factores que favorecem o desenvolvimento bacteriano.
Deste modo, os produtos de pesca podem sofrer diversos tipos de contaminações agrupadas em perigos físicos, químicos e biológicos.
Assim, face a este contexto, justifica-se a necessidade do estudo dos perigos inerentes ao consumo deste tipo de alimento (peixe cru), contribuindo desta forma para um incremento da segurança alimentar, ligada a estes produtos.


SUSHI
A história do sushi remonta a necessidade de conservação do peixe cru, através de técnicas desenvolvidas no Sudeste Asiático e China. A cabeça e as vísceras, eram retiradas, os filetes do peixe cru eram salgados e acondicionados num barril de madeira com camadas de arroz cozido entre eles. Com a fermentação natural do arroz, ocorria a libertação de ácido láctico, o que provocava um abaixamento do pH, tornando-o ácido o que garantia a conservação do peixe. O longo processo de armazenamento (entre um e três anos) do arroz tornava-o impróprio para consumo e apenas o peixe era aproveitado. Ao ser introduzido no Japão, no início século VIII d.C.(Barber e Takemura, 2008), essa técnica sofreu uma pequena modificação: teve início a utilização de pedras para prensar o peixe cru e o arroz. Deste modo, foi assim criado um tipo de sushi, o naresushi, que tinha o odor e sabor fortes como características dominantes (Yoshino, 1997). 

No entanto, no início do século XIX surge aquele que é considerado o primeiro sushiman da história, um hábil chefe chamado Hanaya Yohei (1799 -1858) que resolveu confeccionar um sushi que deixasse de ser apenas um método de preservação, e acabou por desenvolver um sushi parecido com que actualmente se consome. No século XX, com a globalização, o sushi espalhou-se por todo o mundo. A partir de 1980, nos Estados Unidos, difunde-se a idéia de que a cozinha japonesa, especialmente o sushi, é saudável, o que causou o chamado “sushi boom” por todo o mundo, nomeadamente com a abertura de sushi-bares, rodízios de sushi, entre outros (Yoshino, 1997).
O ingrediente comum em todos os diferentes tipos de sushis é o arroz de sushi. O arroz que compõe estas preparações é previamente cozido, e mantido à temperatura ambiente. Esta prática possibilita a germinação de esporos de Bacillus cereus que possam estar no alimento, já que nesta forma são resistentes ao processo térmico. Além disso, o uso de utensílios de madeira, tradicionais da cozinha japonesa, pode contribuir para a contaminação das preparações por ser de difícil higienização (Martins, 2006).

Tipos de Sushi
Algumas variedades mais tradicionais apreciadas actualmente são: Futomaki (rolinhos grandes). Este tipo de sushi possui como recheio uma variada combinação de peixes, folhas e raízes. Tendo tradicionalmente recheios ímpares.
Hosomaki (rolinhos finos). Eles são geralmente feitos com apenas um recheio.
Kappamaki. Hosomaki recheado apenas com pepino em tiras é um dos mais tradicionais sushis.
Tekkamaki. Tendo, como recheio, o atum, é uma das variantes mais conhecidas de hosomaki.
Temaki (rolinhos de mão). Um pedaço grande em formato de cone, com o nori na parte externa e os ingredientes até à boca da extremidade larga. 
Uramaki (enrolado ao contrário) O recheio fica no centro, rodeado por uma camada de nori, uma camada de arroz e uma cobertura de outro ingrediente, como ovas de peixe ou sementes de gergelim torradas.
Gunkanzushi (sushi "navio de guerra"). Também conhecido como gunkanmaki, é um sushi pequeno, ovalado, similar em tamanho e aparência ao hosomaki. Um punhado de arroz é embrulhado à mão em uma tira de nori, mas, ao invés de o recheio, ficar no centro, tem alguns ingredientes como ovas de peixe — empilhados no topo.

Sashimi
O Sashimi consiste em peixe cru cortado em fatias finas e filetado, cubos ou tiras, servido com molho de soja e wasabi (pasta de rábano-bastardo). Além do prato japonês tradicional o termo sashimi, é frequentemente usado para se referir a outros alimentos preparados sem qualquer cozimento. Em termos culinários, o sashimi representa a apreciação cultural dos japoneses pela subtileza. (figura 8). Alguns ingredientes do sashimi, como o polvo, são servidos após serem cozidos devido à sua textura peculiar. A maior parte, no entanto, é servida crua: lula, camarão, atum, cavalinha, carapau e a vieira.

Perigos alimentares associados ao pescado
O peixe e/ou os moluscos crus, podem apresentar uma enorme variedade de microrganismos, com um potencial risco para a saúde pública. O aumento do consumo de alimentos consumidos sem tratamentos térmicos, com especial atenção para os pratos orientais, sushi e sashimi, aliada ao aumento do comércio internacional, favoreceu a maior incidência destes microrganismos nos Estados Unidos e na Europa (Masson e Pinto, 1998). Segundo o Codex Alimentarius, o conceito de perigo alimentar envolve qualquer propriedade biológica, física ou química, que possa tornar um alimento prejudicial para consumo humano. 

Os produtos da pesca e aquacultura são os mais perecíveis dos produtos de origem animal, devido, essencialmente, às suas características intrínsecas. As alterações post mortem do pescado levam a uma rápida perda dos atributos ligados à frescura.
Segundo a Food and Agriculture Organization (FAO, 2009), doenças de origem alimentar são aquelas de origem infecciosa ou tóxica, causadas por agentes ou substâncias que entram no organismo através da ingestão de alimentos. Todas as pessoas apresentam um risco potencial de ter uma doença de origem alimentar, sendo que os indivíduos imunodeprimidos, crianças e idosos, apresentam uma maior susceptibilidade. Muitos países conhecem o impacto na saúde e o peso monetário que as doenças de origem alimentar representam nas comunidades. Estudos realizados em 1996, pelo Economic Research Service (ERS), órgão ligado ao Departamento da Agricultura dos Estados Unidos, estimam que haja mais de seis milhões de casos de doenças de origem alimentar, causadas por diversas patogenias, com mais de 9 mil mortes a cada ano. A estimativa da OMS é de setenta e seis milhões de casos com aproximadamente trezentos mil hospitalizações e cinco mil mortes, naquele país (Silva, 2007).

Entre 1992 e 1999, mil quatrocentos e vinte cinco surtos de infecção intestinal foram reportados na Inglaterra e País de Gales. Cento e quarenta e oito destes surtos (10%) formam associados ao consumo peixe e frutos do mar dos surtos, dos quais 47% relacionados ao consumo de peixes, 36% ao consumo de moluscos e 11% ao consumo e crustáceos. Na Europa, a contribuição de pescado nos surtos de doenças transmitidas por alimentos variou entre 0,3 a 12,2%, nos dezasseis países pesquisados (Silva, 2007). 


Para continuar a ler:
https://pt.scribd.com/doc/282805793/SQHA-Perigos-e-Riscos-relacionados-com-o-sushi-sashimi-para-a-Saude

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